Médicos de família podem ser aliados no tratamento do câncer, dizem especialistas

Com o aumento dos casos de câncer globalmente — a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que os casos de tumores e outros quadros clínicos do tipo vão subir 77% até 2050 — especialistas em saúde começam a discutir sobre a necessidade de ampliar a linha de cuidados preventivos e de acompanhamento de pacientes oncológicos. Nesse sentido, médicos de família e comunidade (presentes no SUS e em algumas empresas), focados em atender o paciente integralmente e ouvir queixas das mais diferentes ordens, começam a figurar como uma boa alternativa para acompanhar quem teve esse diagnóstico.

— Ao longo das enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul, cuidei de um paciente que estava em cuidados paliativos após um melanoma ocular. O acompanhei até os seus últimos dias, fazendo controle do oxigênio e ministrando a medicação para a dor — conta Diane Moreira, médica de família dos funcionários do Hospital Moinhos de Vento no Rio Grande do Sul. — Podemos acompanhar todo o trajeto. Por vezes, o paciente ouve que tem uma suspeita de câncer e dali em diante já não entende mais nada do que é preciso fazer a partir dessa notícia. A gente, como médico de família, auxilia nessa tradução do que o especialista queria dizer. Além disso, ajudamos a traçar uma estratégia para conseguir que os exames seja feitos o mais rápido possível.

Diane conta que, em seu trabalho, também teve a oportunidade de explicitar a vontade de um paciente a uma equipe de emergência. No momento da internação, o paciente decidiu que, por motivos religiosos, não queria receber uma transfusão de sangue. E coube a ela explicar o caso aos especialistas que assumiriam o caso dali em diante.

— Nosso trabalho é também olhar para as doenças crônicas que seguem existindo ao longo do câncer, como hipertensão e diabetes. Além disso, é claro, tentamos auxiliar em termos de saúde mental — afirma a especialista, que garante que uma atuação do tipo não substitui nem deve atravessar a atribuição de oncologistas e hematologistas, por exemplo.

Em geral, o médico de família é um generalista que acompanha o paciente e, por vezes, seus parentes, por muitos anos. As queixas que chegam ao seu consultório podem variar de dores, mal-estares, pedidos de check-up e até mesmo unhas encravadas. O atendimento pode variar entre idades e diferentes gêneros de pacientes, sem limitação. A atuação para acompanhar casos de câncer, embora bastante defendida por esses profissionais, ainda não foi amplamente estudada em estudos clínicos de grande porte, embora algumas avaliações antigas de menor porte deem conta de que esses especialistas podem, sim, ter impacto positivo no prognóstico de alguém que tenha passado por cuidados oncológicos.

— A gente indica o paciente para o tratamento específico, mas ele nunca deixa de ser parte do nosso trabalho. Então, por exemplo, eu vejo um diagnóstico que pode ter grande probabilidade de ser câncer, a gente encaminha para o serviço de referência, mas ele segue em acompanhamento junto à medicina de família. Até porque, em muitos casos, o nosso atendimento é mais próximo de sua residência — afirma Gabriela Gomide, Médica de Família e Comunidade, docente e coordenadora de Habilidades Médicas no ecossistema de ensino Inspirali. — Estaremos disponíveis para tirar dúvidas e acompanhar os desafios do tratamento e, felizmente se tudo der certo, dar nosso apoio após a remissão. A pessoa não é só o câncer, ela segue com todas suas questões pessoais enquanto isso.

Fonte: O Globo

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