Mulher descobre câncer na gravidez, faz quimio e filha nasce saudável
Com apenas 27 anos, a paulistana Talita Scupino já teve a vida sacudida três vezes. Da primeira, foi diagnosticada com dois tumores do tipo teratoma nos ovários. Meses depois, enquanto estava grávida de quatro meses da primogênita, descobriu um câncer no ovário esquerdo.
Após o parto, durante a cirurgia para retirar o tumor, os médicos viram que não se tratava de apenas um — eram 66 tumores malignos. Eles migraram para a parede do intestino.
A história de Talita viralizou nas redes sociais depois que a atriz norte-americana Viola Davis compartilhou um vídeo da jovem brasileira em que o marido dela, Bruno Scupino, raspa o cabelo da esposa durante o tratamento e também os próprios fios, como forma de apoiar a companheira.
O emocionante registro, compartilhado em 3 de setembro, foi visualizado mais de 3 milhões de vezes.
Os primeiros tumores
Talita descobriu, no primeiro semestre de 2022, ter dois teratomas no ovário: um com 22 centímetros e o outro, com 10. “Em abril, comecei a sentir fortes dores na barriga. Uma tomografia mostrou que eu estava com dois tumores”, lembra.
O teratoma é um tumor de ovário de células germinativas que pode conter vários tipos de tecidos do corpo, como cabelo, músculo, osso e dentes. Eles podem ser benignos (teratoma maduro) ou cancerosos (teratoma imaturo), de acordo com o Instituto Oncoguia.
Apesar do tamanho dos tumores, a biópsia concluiu que os dois eram benignos. O teratoma maduro é o tipo mais comum e afeta com frequência mulheres em idade reprodutiva.
O tratamento geralmente é feito com a retirada do tumor. Talita fez a cirurgia e precisou remover também o ovário direito: o esquerdo foi deixado porque os responsáveis pelo procedimento acreditaram que ele estava saudável e que a paulistana poderia ter uma gravidez assistida no futuro.
“A médica me explicou que os tumores estavam torcidos, por isso eu estava sentindo tanta dor”, conta, em entrevista ao Metrópoles.
Gravidez surpresa
O ovário realmente estava funcionando, e Talita acabou engravidando naturalmente apenas três meses após a cirurgia. “Como me falaram sobre a necessidade de fazer um tratamento para engravidar, não me cuidei. Naquela altura, eu nem poderia ter engravidado”, conta.
Com quatro meses de gestação, exames de pré-natal mostraram que Talita tinha um acúmulo de líquido na barriga equivalente a oito litros, e seu ovário estava com 17 centímetros — o tamanho normal é de cerca de três centímetros de largura.
Ela passou por mais uma bateria de exames e foi diagnosticada com um tumor no ovário esquerdo. A jovem precisou fazer três ciclos de quimioterapia durante a gravidez, além de colocar uma bolsa de colostomia para drenar o líquido da barriga.
“Os médicos cogitaram interromper a gravidez por medo de a quimioterapia prejudicar o bebê. Achei que ia morrer, que não aguentaria, porque fiquei muito fraca. Meu esposo teve que sair do trabalho para cuidar de mim, mas não desisti da minha filha”, relata a profissional autônoma.
Preocupada com os efeitos do tratamento no bebê, a paulistana chegou a assinar um termo de responsabilidade em que dizia não querer mais fazer sessões de quimioterapia para não prejudicar a filha. Alguns dos principais efeitos colaterais em fetos que são expostos à medicação são cegueira, surdez e afonia (mudez).
Talita passou por uma cesariana na 34ª semana de gestação, quando exames mostraram que o coração do bebê estava mais fraco do que o esperado. Mesmo com todos os percalços, Vittoria nasceu saudável. Ela passou 33 dias em uma unidade de terapia intensiva (UTI) para ganhar peso e recebeu alta quando chegou aos dois quilos.
“Ela era muito pequenininha. Como mãe de primeira viagem, eu não sabia como cuidar daquele bebê tão frágil”, conta a autônoma. A menina completa 5 meses no sábado (16/9).
Mais um susto
Logo após a cesárea, Talita passou por uma cirurgia de quatro horas para retirar o tumor do ovário. Foi só durante o procedimento que os médicos descobriram que o câncer havia se espalhado e se alojado principalmente na camada de gordura do intestino, antes de entrar no órgão.
Na verdade, não era apenas um tumor: os cirurgiões encontraram 66 tumores malignos, do tamanho de caroços de feijão, alojados na parede do intestino. Talita passou 20 dias internada e, hoje, aguarda um exame que mostrará se ela ainda tem células cancerígenas, ou se está livre, de uma vez por todas, do câncer. Os médicos estão confiantes.
“Passamos por tudo isso juntos: eu, meu marido e a Vittoria. Foi graças à gravidez dela que descobri os tumores e pude me tratar — sem a minha filha, poderia ter sido diagnosticada tarde demais”, conta.
Matéria publicada no jornal Metrópoles em 15/09/2023
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