Não é uma Guerra – um Poema sobre a Jornada do Paciente com Câncer

Câncer não é algo fácil de lidar. Pessoas diagnosticadas com essa doença passam por muitos desafios. Quando visto através da ótica dos cuidados paliativos, o diagnóstico agrava a dor imensamente, tornando-a mais complexa em vários aspectos. Um dos fatores que alimenta essa dor é a ‘expectativa’ de lutar numa guerra chamada câncer.
O uso dessa terminologia pode criar um caos emocional na pessoa diagnosticada com um câncer. Como alguém que recebeu o diagnóstico, isso colocou uma pressão injusta sobre mim para ‘performar’ quando me disseram que eu tinha que lutar nessa guerra.
Tenho trabalhado como conselheira de cuidados paliativos e câncer há muitos anos. Conhecendo de perto famílias que lidam com a doença, acredito que é hora de aprimorarmos nossas habilidades de comunicação. Vamos abordar o câncer como uma ‘doença’ que afeta muitos. Ninguém vence ou perde para o câncer, alguns sobrevivem e outros não.
Compartilho meus pensamentos através deste poema que escrevi:
Eu a conheci anos antes
Era jovem
Viajava pelo ‘ciclo’ da vida
Como tantos outros
Pensava que estava no caminho certo.
E então
Ela conheceu o câncer
Lhe disseram que era um ataque
Mas para ela, aquilo não era nem seu inimigo, nem seu adversário
Um companheiro indesejado.
Que caminhava lhe segurando pela mão
Lado a lado
O tratamento foi para ‘matar’
Lhe disseram que era uma batalha e que ela devia lutar
As armas e munição que lhe deram
Bloquearam seu modo de vida circular
“Quando a batalha terminará?”, ela se perguntou.
Vozes ecoavam em seus ouvidos
“Lute, lute, lute!
Não ouse se render”
Sussurrando disse, “Posso descansar? Posso ser…?
Em uníssono responderam “Não, não não!
Você não é de desistir!
Você é uma guerreira!
Não faça cara feia!
Soldado, avance!”
Ela se olhou no espelho,
Se viu cansada e abatida.
Uma lágrima lhe descia a face.
Não, não havia uma batalha à vista.
Eu não sou um soldado lutando uma guerra.
Sou uma pessoa
Com cicatrizes demais.
Segurei sua mão
“Descanse se assim quiser.
Chore se assim quiser”
Ela chorou.
“Estou cansada de ser ‘corajosa’.
Não quero ‘lutar’.
Não sou uma lutadora, nem uma guerreira,
Nem uma covarde,
Só quero ser ‘eu’.
Não, não vou desistir
Apenas deixe-me ser humana
Esse direito não é meu?"
Então, ela repousou,
Fraca e desgastada.
Mas sua alma era leve
E um sorriso gentil lhe tomou os lábios
O pesado manto da ‘guerra’, retirado.
A ouvi respirar.
Aliviada, suspirou.
Sobre a autora:
Vandana Mahajan é uma ativista do câncer e conselheira de cuidados paliativos atuante em Mumbai, na Índia. Você pode acompanhá-la aqui.
Este poema foi originalmente publicado pela Nivarana - Plataforma de Saúde Pública da Índia e foi traduzido e adaptado livremente pela equipe do Instituto Oncoguia.
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