Novidades no tratamento do câncer de próstata

Muitas pesquisas sobre câncer de próstata estão em desenvolvimento em diversos centros médicos no mundo inteiro, promovendo grandes avanços em prevenção, diagnóstico e tratamentos. Confira alguns deles.

  • Alterações genéticas

Novas pesquisas sobre as alterações genéticas associadas ao câncer de próstata ajudaram os pesquisadores a entender melhor como o câncer de próstata se desenvolve. Isso pode possibilitar o desenho de medicamentos para atingir essas alterações. 

  1. Identificar homens com maior probabilidade de desenvolver câncer de próstata.
  2. Determinar quais homens podem precisar de uma segunda biópsia de próstata, mesmo que a biópsia inicial não tenha diagnosticado o câncer.
  3. Determinar quais cânceres de próstata têm maior probabilidade de crescer e se disseminar e, portanto, devem ser tratados.
  4. Determinar se tratamentos específicos, como terapia-alvo, podem ser úteis.
  5. Identificar quais homens podem se beneficiar de testes genéticos para verificar se herdaram uma alteração genética e, portanto, também têm um risco aumentado para outros tipos de câncer.

  • Prevenção

Os pesquisadores continuam procurando alimentos que podem diminuir o risco de câncer de próstata. Algumas substâncias no tomate (licopeno) e na soja (isoflavonas) ajudam a prevenir o câncer de próstata. Atualmente, os estudos estão analisando os possíveis efeitos desses compostos.

Também está em andamento o desenvolvimento de compostos relacionados para uso como suplementos dietéticos. Até agora, a maioria das pesquisas sugere que uma dieta equilibrada que inclua esses alimentos, assim como frutas e legumes, traz maiores benefícios do que ingerir essas substâncias como suplementos dietéticos.

Algumas pesquisas sugerem que os homens que tomam regularmente determinados medicamentos, como aspirina ou estatinas para diminuir o colesterol, por um longo período de tempo, podem ter um risco menor de contrair câncer de próstata. Ainda assim, são necessárias mais pesquisas para confirmar isso e mostrar que qualquer benefício supera os potenciais riscos.

Os pesquisadores também testaram medicamentos hormonais, como os inibidores da 5-alfa redutase, como forma de reduzir o risco de câncer de próstata.

  • Detecção precoce

O exame de sangue do antígeno específico da próstata (PSA) não é um exame perfeito para diagnosticar o câncer de próstata, por deixar de lado alguns tipos de câncer e algumas vezes mostrar-se elevado quando a doença não está presente.

Outra abordagem é desenvolver novos exames com base em outras formas de PSA ou outros marcadores tumorais. Vários exames recentes parecem ser mais precisos do que o PSA, incluindo:

  1. Phi. Combina os resultados do PSA total, PSA livre e proPSA para determinar a probabilidade do homem com câncer de próstata precisar de tratamento.
  2. Exame 4Kscore. Combina os resultados do PSA total, PSA livre, PSA intacto e kallikrein 2 humana (hK2), junto com alguns outros fatores para determinar a probabilidade do homem com câncer de próstata precisar de tratamento.
  3. Exame Progensa. Avalia o nível do antígeno do câncer de próstata 3 (PCA3) na urina. Quanto maior o nível, mais provável a presença de doença. 
  4. Exame que procura por uma alteração anormal no gene TMPRSS2: ERG em células prostáticas. Essa alteração no gene é encontrada em alguns tipos de câncer de próstata, mas raramente é diagnosticada nas células de homens sem câncer de próstata.
  5. ExoDx Próstata ou EPI. É um exame que analisa o nível de 3 biomarcadores na amostra da urina para determinar o risco do homem ter um câncer de próstata agressivo (alto grau).
  6. SelectMDx. Analisa os níveis de determinadas formas de RNA na urina. Esse teste pode ser usado junto com outros fatores para determinar o risco de um homem ter câncer de próstata agressivo (alto grau).
  7. Mi-Prostate Score (MiPS). Leva em consideração o PSA total no sangue, bem como os níveis de PCA3 e as alterações do gene TMPRSS2:ERG na urina para determinar o risco do homem ter câncer de próstata.
  8. Teste sentinela PCa. Procura determinados pedaços de RNA na urina para determinar o risco de câncer de próstata no homem.
  9. IsoPSA. Analisa diferentes formas de PSA no sangue para determinar o risco do homem ter câncer de próstata de alto grau.
  10. ConfirmMDx. É um exame que analisa determinados genes nas células da amostra de biópsia da próstata

Esses exames não substituirão o PSA em breve, mas podem ser úteis em determinadas situações. Por exemplo:

  • Alguns podem ser úteis em homens com PSA ligeiramente elevado, para determinar se devem fazer uma biópsia da próstata. 
  • Outros podem ser mais úteis para determinar se os homens que já fizeram a biópsia da próstata e não diagnosticaram o câncer devem (ou não) fazer outra biópsia. 

Os pesquisadores e os médicos estão determinando a melhor maneira de usar cada um desses exames.

  • Diagnóstico

As biópsias da próstata geralmente dependem da ultrassonografia transretal, que cria imagens em preto e branco para mostrar os locais de onde podem ser removidas amostras de tecido. Mas o ultrassom normal não pode diagnosticar algumas áreas cancerígenas. Existem várias abordagens mais recentes para o diagnóstico de câncer de próstata.

  1. Ultrassom com doppler colorido. Essa técnica mede o fluxo sanguíneo dentro da glândula, tornando as biópsias mais precisas.
  2. Ultrassonografia doppler com contraste. A ultrassonografia doppler envolve a administração de uma injeção com um agente de contraste para aprimorar as imagens. 
  3. Elastossonografia transretal. Nessa técnica, o ultrassom é usado para determinar a rigidez de diferentes partes da próstata. 
  4. Micro-ultrassonografia. Essa técnica utiliza ondas ultrassônicas de alta frequência, que criam imagens mais detalhadas da próstata.
  • Estadiamento

O estadiamento desempenha um papel fundamental na decisão do tratamento. Os exames de imagem para câncer de próstata, como tomografia computadorizada e ressonância magnética não conseguem diagnosticar todos os cânceres, especialmente as pequenas áreas nos linfonodos.

A ressonância magnética multiparamétrica pode determinar a extensão e a agressividade da doença, o que pode influenciar as opções de tratamento. Nesse exame é feita uma ressonância padrão e, em seguida pelo menos um outro tipo de ressonância magnética, como a imagem ponderada por difusão, a ressonância magnética de contraste dinâmico ou a ressonância magnética por espectroscopia para avaliar outros parâmetros do tecido prostático. Os resultados das diferentes varreduras são comparadas para diagnosticar as áreas anormais. 

A ressonância magnética melhorada pode ajudar a diagnosticar linfonodos que contenham células cancerígenas. Primeiro, os pacientes fazem a ressonância magnética padrão, depois são injetadas minúsculas partículas magnéticas e um novo exame é realizado ao dia seguinte. As diferenças entre essas duas varreduras apontam as possíveis células cancerígenas nos linfonodos. Os primeiros resultados dessa técnica são promissores, mas ainda são necessárias mais pesquisas antes que se torne amplamente utilizada.

Novos tipos de exames PET também podem ser úteis na detecção de câncer de próstata em diferentes partes do corpo. Esses exames usam marcadores, como fluoreto de sódio radioativo, fluciclovina, colina ou acetato de carbono. Alguns exames mais recentes utilizam traçadores radioativos que se ligam ao antígeno de membrana específico da próstata, uma substância que é frequentemente encontrada em grandes quantidades nas células do câncer de próstata. 

  • Exames para avaliar os riscos de câncer de próstata

Uma importante área de investigação é determinar quais os homens com câncer de próstata em fase inicial precisam de ser tratados imediatamente e quais os homens que podem ficar em vigilância ativa ou observação.

Alguns tipos de exames de laboratório recentes, conhecidos como testes genômicos ou proteômicos, podem ser usados ​​junto com outras informações, como o nível do PSA e o grau do tumor, para prever melhor a rapidez com que o tumor pode crescer ou se espalhar. Esses testes analisam quais genes (ou proteínas) estão ativos dentro das células do câncer de próstata. 

  • Cirurgia

As técnicas cirúrgicas utilizadas no tratamento do câncer de próstata estão constantemente sendo aprimoradas. O objetivo é remover todo o câncer, reduzindo o risco de complicações e efeitos colaterais da cirurgia.

A cirurgia para tratar o câncer de próstata geralmente é realizada por meio de prostatectomia assistida por robô. Nessa abordagem, pequenas incisões são feitas no abdômen para inserção dos instrumentos cirúrgicos. Os benefícios dessa abordagem incluem tempo de recuperação, rapidez no procedimento e menos dor no pós operatório.

Numa abordagem mais recente, conhecida como prostatectomia robótica de incisão única, a cirurgia é realizada através de apenas uma incisão próxima ao umbigo do paciente. O objetivo é reduzir ainda mais a dor e o tempo de recuperação, embora isso ainda precise de ser comprovado em estudos clínicos.

  • Radioterapia

Os métodos atualmente utilizados, como a radioterapia conformacional, radioterapia de intensidade modulada e radioterapia com feixes de prótons permitem o tratamento apenas da glândula prostática e evitam a irradiação dos tecidos normais, tanto quanto possível. Espera-se que esses métodos aumentem a eficácia da radioterapia, reduzindo seus efeitos colaterais.

A tecnologia está tornando outras formas de radioterapia mais eficazes. Novos programas de computador permitem um melhor planejamento das doses de radiação, tanto para radioterapia externa como para braquiterapia. O planejamento braquiterápico pode ser feito até durante o procedimento cirúrgico. 

  • Tratamentos para câncer em estágio inicial

Os pesquisadores estão voltados para novas formas de tratamento para a doença em estágio inicial, que podem ser utilizados como tratamento principal ou após a radioterapia.

Por exemplo, atualmente, os pesquisadores estão avaliando se os tratamentos ablativos são úteis para esses tipos de cânceres. Esses tratamentos usam calor extremo, frio ou outros métodos para destruir os tumores. Os exemplos incluem crioterapia, ultrassom focalizado de alta intensidade, terapia fotodinâmica e ablação focal a laser.

Estudos estão em andamento para determinar sua segurança e eficácia.

  • Alterações nutricionais e de estilo de vida

Muitos estudos analisaram os possíveis benefícios de nutrientes específicos no tratamento do câncer de próstata, embora até agora nenhum tenha mostrado uma eficácia clara. Alguns compostos em estudo incluem extratos de romã, chá verde, brócolis, açafrão, linhaça e soja.

É importante que os homens que pensam em tomar qualquer tipo de suplemento nutricional conversem primeiro com seu médico para decidir com segurança qual usar evitando aqueles que possam ser prejudiciais.

  • Hormonioterapia

Várias novas formas de hormonioterapia foram desenvolvidas nos últimos anos. Algumas delas podem ser úteis mesmo se a terapia hormonal não estiver mais respondendo. 

Alguns exemplos incluem a abiraterona, enzalutamide, apalutamida e darolutamida. Outros estão atualmente em fase de estudo.

  • Quimioterapia

Estudos recentes têm mostrado que muitos medicamentos quimioterápicos como o docetaxel e o cabazitaxel aumentam a sobrevida. 

Novos medicamentos quimioterápicos e combinações também estão sendo estudados.

  • Imunoterapia

O objetivo da imunoterapia é estimular o sistema imunológico do corpo a combater ou destruir as células cancerígenas.

  • Vacinas

Ao contrário das vacinas contra infecções, como sarampo ou caxumba, essas vacinas são projetadas para tratar e não prevenir o câncer de próstata. Uma possível vantagem desse tipo de tratamento é que parece ter menos efeitos colaterais. Exemplo deste tipo de vacina é o sipuleucel-T.

Vários tipos de vacinas para estimular a resposta do sistema imunológico às células cancerígenas estão em fase de ensaios clínicos. 

  • Inibidores do controle imunológico

Uma função importante do sistema imunológico consiste na sua capacidade de atacar outras células normais e anormais do corpo. Para fazer isso, ele usa pontos de verificação – as chamadas moléculas de controle imunológico em células imunológicas que precisam ser ativadas (ou desativadas) para iniciar uma resposta imunológica. As células cancerígenas, às vezes, usam esses pontos de controle para evitar serem atacadas pelo sistema imunológico. Medicamentos recentes que têm como alvo esses pontos de controle têm resultados promissores no tratamento contra o câncer.

  • Terapia do receptor de antígeno quimérico de células T ("CAR T-Cells”)

Nesse tratamento, as células T removidas do sangue do paciente são modificadas em laboratório para que tenham receptores chamados receptores de antígeno quimérico ou CAR em sua superfície. Esses receptores são produzidos para se conectarem às proteínas na superfície das células da próstata. Após a coleta, as células T são geneticamente alteradas e multiplicadas em laboratório. As células modificadas são infundidas de volta no sangue do paciente para destruir as células cancerígenas.

Essa técnica mostrou alguns resultados promissores contra o câncer de próstata nos primeiros ensaios clínicos, mas são necessárias mais pesquisas para comprovar sua eficácia. A terapia com células T CAR para câncer de próstata é um tratamento complexo com efeitos colaterais potencialmente importantes e atualmente só está disponível em estudos clínicos.

  • Terapia-alvo

Novos medicamentos que têm como alvo partes específicas das células cancerígenas estão em desenvolvimento. Cada tipo de terapia alvo funciona de forma diferente, mas todas alteram a forma como uma célula cancerígena cresce, se divide, se repara ou interage com outras células. 

  • Inibidores PARP

Alguns pacientes têm mutações nos genes de reparo do DNA (como o BRCA2) que dificultam a correção das células cancerígenas do DNA danificado. Os medicamentos denominados inibidores de PARP agem bloqueando uma via diferente do reparo do DNA. As células cancerígenas têm maior probabilidade de serem afetadas por esses medicamentos do que as células normais.

Inibidores da PARP, como olaparibe, rucaparibe, niraparibe e talazoparibe, podem ser usados junto com a hormonioterapia no tratamento do câncer de próstata avançado se as células tiverem mutações num gene de reparação do DNA.

  • Anticorpos monoclonais

Os anticorpos monoclonais são versões artificiais de proteínas imunológicas que podem ser projetadas para se fixarem em alvos específicos nas células cancerígenas, como a proteína PSMA nas células cancerígenas da próstata. 

A maioria dos anticorpos monoclonais está associada à  quimioterapia ou a pequenas moléculas radioativas. A esperança é que, uma vez injetado no corpo, o anticorpo atue como um dispositivo de retorno, levando o medicamento ou a molécula radioativa diretamente às células cancerígenas, o que pode ajudá-las a responder melhor. Atualmente, vários anticorpos monoclonais estão sendo avaliados em estudos clínicos.

  • Tratamento de metástases ósseas

Os médicos estão estudando o uso de diversas abordagens mais recentes para tratar o câncer de próstata disseminado para uma ou mais áreas dos ossos, principalmente se a radioterapia não estiver respondendo. Várias delas são tratamentos ablativos, onde calor ou frio extremo são usados em tumores ósseos para eliminá-los, como ultrassom focalizado de alta intensidade, ablação por radiofrequência e crioablação.

Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, em 22/12/2023, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.

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