Novidades no tratamento do câncer de olho
Muitas pesquisas sobre câncer de olho estão em desenvolvimento em diversos centros médicos no mundo inteiro, promovendo grandes avanços sobre suas causas e como melhorar o tratamento. Confira alguns deles.
- Genética
Entender como alterações genéticas tornam as células cancerígenas oculares diferentes das células normais provavelmente desempenhará um papel importante no tratamento dos melanomas oculares no futuro.
- Uso da genética para encontrar pessoas em risco
Conforme os pesquisadores compreendem as alterações genéticas nesses tipos de câncer, serão capazes de desenvolver testes para identificar quais pessoas são mais propensas a desenvolver a doença.
Por exemplo, nos últimos anos, os pesquisadores descobriram que famílias com mutações no gene BAP1 as torna propensas a desenvolver melanoma ocular. Embora essa alteração genética afete apenas uma pequena porcentagem de pacientes com melanoma ocular, os pesquisadores poderão estudá-la melhor para saber mais sobre como os melanomas oculares se desenvolvem.
- Uso de genes para o prognóstico da doença
As alterações genéticas nos tumores podem prever a probabilidade deles se disseminarem. Por exemplo, em pacientes com melanoma uveal, algumas alterações genéticas, como a perda de uma cópia do cromossomo 3, têm sido associadas a um aumento do risco de disseminação da doença.
Recentemente, os pesquisadores descobriram que o padrão da expressão genética nas células tumorais parece ser uma melhor forma de prever a probabilidade do melanoma ocular se disseminar (ou não). Com base nesse padrão genético, pouco mais da metade dos melanomas oculares são tumores "classe 1", que têm baixo risco de disseminação. Os melanomas oculares restantes se enquadram na categoria "classe 2", que tem um alto risco de disseminação.
Alguns centros já oferecem o exame (DecisionDx-UM) para essas alterações genéticas, e alguns pacientes poderão realizá-lo. Se um paciente for considerado de alto risco, o médico pode fazer o acompanhamento no intuito de determinar a disseminação da doença o mais precocemente possível. Entretanto, no momento, nem todos os médicos estão interessados em realizar esse exame, porque ainda não existem formas preventivas de disseminação da doença ou ainda de modificar o prognóstico dos pacientes que estão no grupo de alto risco.
- Uso de genes para encontrar novos tratamentos
A identificação das alterações genéticas também pode fornecer informações específicas para o desenvolvimento de novos medicamentos. Por exemplo, a maioria dos melanomas oculares diagnosticados tem alterações em dois genes relacionados, GNAQ ou GNA11. Esses genes são parte da via de sinalização MAPK do interior das células, que as ajuda a se desenvolverem. Ainda não está claro se esses medicamentos poderão agir diretamente nessas alterações genéticas, mas alguns deles têm como alvo outros genes da via MAPK, que estão em fase de estudo para uso contra os melanomas oculares, alguns desses medicamentos mostraram resultados iniciais promissores.
- Novos exames para câncer de olho
A biópsia líquida, um novo tipo de biópsia, vem sendo realizada com frequência. Nesses procedimentos, as células tumorais do melanoma são coletadas de uma amostra de sangue. As células cancerígenas podem ser estudadas para determinar algumas características, incluindo alterações genéticas, que podem prever a probabilidade do câncer se disseminar ou recidivar após o tratamento. As biópsias líquidas podem diagnosticar a disseminação do tumor mais cedo ou prever se o tratamento está respondendo. Isso pode ser útil em pacientes que não fizeram a biópsia do tumor e querem preservar a visão. No entanto, a tecnologia necessária para esse exame não está largamente disponível, portanto, esse tipo de biópsia não é feita rotineiramente.
- Imunoterapia
Imunoterapia é um tratamento que estimula o próprio sistema imunológico do corpo, na tentativa de fazê-lo atacar as células cancerígenas. Citocinas, anticorpos monoclonais, vacinas e outras imunoterapias estão entre as abordagens mais promissoras para o tratamento do melanoma. Embora a maioria dos protocolos clínicos desses tratamentos incluam pacientes com melanomas da pele, os resultados destes estudos podem ajudar no tratamento de pacientes com melanoma oculares. Por exemplo:
- Os inibidores do ponto de controle imunológico, que aumentam a resposta do organismo, mostraram ser úteis em pacientes com melanomas cutâneos. E também podem ser uma opção para pacientes com melanoma ocular.
- Os acopladores de células T biespecíficos são medicamentos que ajudam a unir células imunológicas chamadas células T com células de melanoma, o que pode aumentar a resposta imunológica do corpo. Um desses medicamentos, o tebentafusp, é uma opção para o tratamento de pacientes com melanomas oculares avançados.
- Terapia-alvo
Um maior entendimento sobre as alterações nas células que causam o câncer tem levado ao desenvolvimento de novos medicamentos alvo que visam especificamente estas mudanças. Essas novas terapias-alvo agem de forma diferente dos quimioterápicos convencionais, além de terem menos efeitos colaterais.
A maioria dos melanomas oculares encontrados tem alterações nos genes GNAQ ou GNA11, que são parte da via de sinalização MAPK que ajuda as células a se desenvolver. O selumetinibe é um medicamento que tem como alvo o gene MEK, que também é parte da via MAPK. O selumetinibe foi o primeiro medicamento que mostrou retardar o crescimento do melanoma ocular avançado em estudos clínicos.
Outros medicamentos mais modernos, como o vemurafenibe, dabrafenibe e trametinibe, têm como alvo uma mutação no gene BRAF. Esta mutação é encontrada em cerca de metade dos pacientes com melanoma da pele, mas apenas 5% com melanoma da conjuntiva ocular. Ainda assim, estes e outros medicamentos ajudam os pacientes cujas células cancerígenas têm estas mutações.
O IMCgp100 é um novo medicamento que se liga a duas proteínas simultaneamente para destruir as células cancerígenas, que mostrou resultados promissores em pacientes com melanoma uveal avançado. Entretanto, mais pesquisas estão em andamento.
Muitas terapias-alvo já estão em uso para tratar outros tipos de câncer. Alguns destes medicamentos estão sendo estudados para uso contra melanoma ocular, incluindo o sunitinibe, sorafenibe, vorinostat e o everolimus.
Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, em 26/01/2022, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.