O dilema da Pesquisa Clínica e o acesso a melhor Assistência

Os maiores avanços na oncologia nos últimos 20 anos se concentram na descoberta de novas drogas. Embora existam avanços na cirurgia e na radioterapia, são as novas medicações que permitem aos pacientes viverem mais e melhor. Embora estas medicações possam aumentar significativamente a taxa de cura (Rituximabe, Trastuzumabe) e/ou prolongar a sobrevida de pacientes (Lenalidomida, Pazopanibe, Erlotinibe, Gefitinibe, Vemurafenibe, Ipilimumabe, Nivolumabe, Abiraterona, Pazopanibe, Sunitinibe, Vandetanibe, para citar apenas alguns exemplos) em meses a anos, todas, sem exceção, são medicações caras, extraordinariamente caras. O custo é o maior impeditivo para que possam ser incorporadas ao Sistema Único de Saúde. A velocidade com que estas medicações são estudadas e oferecidas aos pacientes em outros países ultrapassa em muito a nossa capacidade (e de vários outros países) de aumentar o financiamento do sistema de saúde, que tem inúmeras outras prioridades além das medicações oncológicas.

Uma solução parcial plausível seria abrirmos o país à pesquisa clínica em larga escala. Não basta apenas acelerar o tempo regulatório, é preciso incentivar a pesquisa no país. Se oferecêssemos em centros de pesquisa clínica inúmeros estudos com medicações inovadoras, seguindo os moldes do que é feito na Europa, Canadá e EUA (aliás, abrindo de maneira sumária os mesmos estudos já abertos nesses países), teremos a chance de oferecer ao menos para uma porcentagem da nossa população de pacientes um tratamento inovador, e potencialmente mais eficaz. Pacientes que recebem tratamentos em estudos clínicos deixam de onerar temporariamente o sistema de saúde com tratamentos antiquados e muitas vezes menos eficazes. A assistência médica prestada a pacientes em estudos clínicos é sabidamente mais cuidadosa e demorada que o que o SUS consegue prover na rotina, pelas simples exigências intrínsecas ao estudo. Obviamente todo o esforço deve ser direcionado para melhorar o atendimento e oferta de tratamentos no SUS como um todo, mas enquanto não se atinge um nível adequado (que em face dos custos crescentes, poderá nunca ser atingido), permitir a ampliação significativa de pesquisa clínica e assimilar que através dela prestamos sim assistência de qualidade aos pacientes, é imperativo. A alternativa é pararmos no tempo, e ver a distância do que ocorre entre países desenvolvidos e o que oferecemos para nossos pacientes no SUS aumentar ainda mais. Aliás, esta mesma distância continuará a aumentar também na saúde suplementar. O ônus de estacionarmos no tempo dos tratamentos oncológicos deverá recair sobre os que se negam a aceitar que pesquisa clínica pode sim fazer parte (importante) da assistência.
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