Oito mitos sobre o câncer de mama
Outubro é o mês de conscientização sobre o câncer de mama. Nos últimos anos, os indicadores de mortalidade e sobrevida das pacientes melhoraram consideravelmente, mas falta ainda reduzir a taxa de diagnósticos tardios, quando o tumor já está avançado.
Nesta edição, falo sobre os mitos e verdades deste que é o segundo principal tipo de câncer nas mulheres, atrás apenas dos cânceres de pele do tipo não-melanoma.
Outubro rosa e a importância da prevenção
É verdade que, de todas as campanhas de conscientização, o Outubro Rosa seja provavelmente a mais conhecida.
A imagem de um símbolo em formato de fita rosa, com a mão sobre o peito, automaticamente nos recorda a importância de fazer o autoexame nas mamas —e, caso algo seja detectado, seguir para uma consulta médica para solicitar os exames mais específicos.
Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) para o triênio de 2023 a 2025 estimam 74 mil novos casos por ano de câncer de mama no Brasil. Mas a verdade é que a prevenção vai muito antes do diagnóstico precoce.
Em todo o mundo, as taxas de sobrevida após o câncer de mama melhoraram, muito relacionado à detecção e tratamento precoces. Porém, muitas desigualdades ainda são observadas entre locais (países ricos ou pobres), classes sociais e até cor da pele.
Nos EUA… Um estudo mostrou que mulheres negras e latinas têm maiores índices de mortalidade por câncer de mama do que as mulheres brancas.
Isto pode estar relacionado tanto ao acesso aos centros médicos quanto ao tipo de atendimento que elas recebem: infelizmente, a discriminação por parte de muitos profissionais podem fazer com que uma mulher nessas condições tenha seus sintomas menosprezados e descubra a doença já em um estágio avançado.
No Brasil… Uma pesquisa encomendada ao Instituto Datafolha pela farmacêutica Gilead Sciences, lançada no último dia 27, mostrou que respondentes negras e de classes D e E afirmaram conhecer menos sobre o câncer de mama do que as suas pares brancas.
Assim, isso mostra que não há apenas uma barreira no acesso ao atendimento médico, mas também à informação de qualidade sobre a condição.
Mitos e verdades sobre o câncer de mama
Há, ainda, uma dificuldade em filtrar as informações que chegam. No caso do câncer de mama, muitos mitos sobre a doença precisam ser derrubados.
Veja abaixo oito desses mitos, colhidos do Instituto Oncoguia, um dos mais antigos portais voltados para o paciente com câncer no país:
1) Sou muito jovem para fazer mamografia
Este é um mito comum que, infelizmente, leva muitas mulheres a não realizarem o exame anual. O câncer de mama pode acometer mulheres jovens, com menos de 40 anos e, apesar do rastreamento oferecido na rede pública de saúde ser ofertado a mulheres acima de 40 anos, em pacientes com risco aumentado, o exame pode ser feito a partir dos 35 anos de idade. É sempre bom consultar seu/sua médico/a ginecologista para saber a necessidade de fazer o exame anualmente.
2) Não há nenhum caso de câncer na minha família, por isso não tenho risco
Cerca de 15% dos casos de câncer de mama registrados no país são hereditários, enquanto a maioria (85%) não tem nenhum histórico familiar da doença. Por isso, é importante fazer o rastreamento mamográfico mesmo assim.
3) A mamografia faz mal à saúde
Não há nenhum risco além do esperado em qualquer outro exame que utilize raios-X da mamografia em relação à radiação emitida, uma vez que ele utiliza feixes de baixa energia.
4) O exame é caro
A mamografia é oferecida a toda e qualquer mulher no Brasil pelo SUS (Sistema Único de Saúde), além de ter cobertura obrigatória também dos planos de saúde.
5) Fazer o autoexame todos os meses substitui a mamografia
Embora seja importante fazer o autoexame, assim como as consultas ginecológicas anuais, a Sociedade Americana do Câncer recomenda realizar a mamografia também uma vez por ano. Isto pode aumentar as chances de diagnóstico precoce.
6) Como me alimento bem e faço atividade física, não vou ter câncer
É claro que manter uma dieta equilibrada e praticar exercícios são fundamentais para mandar uma vida saudável e diminuir o risco de doenças, inclusive o câncer, mas isto não o elimina completamente. Assim, os exames periódicos também são fundamentais para manter o cuidado com a sua saúde e das mamas em dia.
7) Desodorante causa câncer
Isto é uma bobagem que não possui nenhum fundamento. Os desodorantes comercializados, mesmo os aerossóis, passaram por órgãos de regulação e controle e são totalmente seguros para uso na pele, sem nenhuma relação com risco para câncer.
8) Ter uma vida sexual ativa protege contra o câncer
Embora seja importante para o bem-estar e saúde emocional, não há nenhuma relação entre a prática sexual e o surgimento da doença. A amamentação, porém, é um fator de proteção contra o câncer.
E você, está em dia com seus exames de mamografia?
CIÊNCIA PARA VIVER MELHOR
Novidades e estudos sobre saúde e ciência
- Novo teste pode detectar tumor ovariano no estágio inicial. Um exame de sangue pode ajudar no diagnóstico precoce de câncer de ovário, segundo um método desenvolvido por pesquisadores do Centro de Compreensão de Câncer USC Norris, em Los Angeles (EUA). O teste usa uma técnica conhecida como metilação do DNA livre que é, basicamente, a busca por pequenos fragmentos de DNA (material genético) na corrente sanguínea que podem se ligar a alguns ácidos nucleicos. Como esse processo ocorre geralmente quando há rompimento das células e liberação do material genético, ela pode ajudar a detectar células tumorais. O artigo foi publicado na revista Clinical Cancer Research.
- Obesidade prejudica o sono em idosos, criando uma ‘tempestade perfeita’ na saúde. O sobrepeso e obesidade são fatores que prejudicam o sono e, em pessoas idosas, consequentemente agravam o estado de saúde, levando a uma chamada "tempestade perfeita", segundo estudo feito na USP com apoio da Fapesp e publicado na revista Scientific Reports. Os pesquisadores viram que, além do aumento da população com mais de 70 anos com sobrepeso ou obesidade nos últimos 15 anos, a maior gordura abdominal agravou ainda os sintomas de ansiedade, depressão e distúrbios de sono nos idosos.
- Agrotóxicos podem afetar função cerebral em jovens. O uso de herbicidas na agricultura, como o glifosato, um dos mais usados no mundo, pode alterar a função cerebral de adolescentes de 11 a 17 anos, levando a danos permanentes em cinco áreas, como memória, atenção e controle inibitório, linguagem e aprendizado. De acordo com o estudo, desenvolvido por pesquisadores da Escola de Saúde Pública Herbert Wertheim, da Universidade da Califórnia, em San Diego (EUA), a presença de glifosato na urina de mais de 500 adolescentes analisados de 2016 a 2019 estiveram relacionadas ao pior desempenho escolar e social dos jovens. O artigo foi publicado na revista especializada Environmental Health Perspectives nesta quarta (11).
Newsletter publicada na Folha de S. Paulo em 11/10/2023
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