OncoDebate: câncer de colo do útero e HPV

No dia 08/03, Dia Internacional da Mulher, promovemos o OncoDebate com foco no câncer de colo do útero e HPV.

Nossa presidente Luciana Holtz reuniu um time de especialistas neste bate-papo sobre os desafios, prioridades, prevenção,  rastreamento, testagem, vacina, diagnóstico e tratamento, priorizando sempre a qualidade de vida da paciente.

Lembrando que março é o Mês de Conscientização do Câncer de Colo do Útero, o terceiro tipo de câncer em número de incidência nas brasileiras, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), com mais de 16 mil novos casos por ano. 

Confira abaixo um resumo de tudo que rolou no nosso OncoDebate.

Abertura e mediação.
Luciana Holtz, fundadora e presidente do Oncoguia

Luciana iniciou o “OncoDebate - Discutindo o Câncer de Colo do Útero e HPV”, reforçando que estamos falando de um câncer prevenível que ainda lutamos para erradicar. Ela também focou na informação de que o câncer de colo do útero é a doença mais frequentemente relacionada ao HPV, e que quase todos os casos podem ser atribuídos à infecção pelo vírus. 

Luciana Holtz apresentou dados do DataSus sobre o câncer de colo do útero. Os números apontam que, por ano, são diagnosticadas/tratadas aproximadamente 11 mil pacientes e que mais da metade delas é diagnosticada em estágios avançados da doença. Outros dados importantes revelam que cerca de ¼ das pacientes têm menos de 40 anos e que a grande maioria ainda demora mais de 60 dias para começar o tratamento.

“Temos um desafio gigantesco relacionado à Lei dos 60 dias. E em 2021, tivemos um impacto muito significativo por conta da pandemia”, alertou Luciana.

Ainda segundo o DataSus, mais de R$ 148 milhões são gastos, em média, com o tratamento da doença todos os anos no SUS.

Por um Brasil sem câncer de colo do útero: estratégias e desafios.
Angélica Nogueira Rodrigues, MD PHD, oncologista, professora, pesquisadora da UFMG e idealizadora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA).

Dra. Angélica iniciou sua fala abordando os desafios relacionados ao câncer de colo do útero, que é um problema de saúde pública mundial, apesar de ser uma doença evitável.  

“Um grande desafio é o acesso a efetivação da prevenção com o Papanicolau, uma ferramenta que se mostrou efetiva e reduziu significamente o câncer de colo do útero e a mortalidade, pelo mesmo em países desenvolvidos. No entanto, a cobertura do exame no Brasil sempre foi aquém do necessário”, ressaltou.

Segundo dados do Ministério da Saúde, hoje, apenas 20% das brasileiras realizam o preventivo adequadamente. 

Entre as barreiras do atual cenário do Papanicolau no país,  a médica citou as dificuldades culturais, limitação da informação, acesso e qualidade, resultado e tratamento. De acordo com a médica, tudo isso leva a alta incidência do câncer de colo do útero. 

Angélica iniciou o tema sobre a vacina HPV, que está disponível na América Latina onde 80% das meninas têm acesso, mas o que não quer dizer que elas estão sendo vacinadas. Ela destacou a importância das campanhas de conscientização com foco nos pais, como por exemplo, o movimento Brasil sem Câncer de Colo do Útero, liderado pelo grupo Eva. 

“Sem atingir as metas, não iremos atingir a eliminação do câncer de colo do útero.”, afirmou Angélica.

Ela ressaltou que a Organização Mundial de Saúde (OMS) trouxe metas muito ambiciosas, efetivando a vacinação e prevenção até 2030, o que por consequência iria resultar na eliminação do câncer de colo do útero.

Vacinação de HPV no Brasil: como estamos e como poderíamos estar. 
Ana Goretti, médica pediatra do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde e responsável pela vacina HPV.

Dra. Ana Goretti aprofundou a discussão sobre os desafios da vacinação contra o HPV no país. Ela reafirmou que a vacina está disponível no SUS para meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos de idade, além de mulheres imunossuprimidas (com sistema imunológico fragilizado) de 9 a 45 anos e homens imunossuprimidos de 9 a 26 anos.

“Desde 2014, o Brasil já distribuiu mais de 50 milhões de doses para todos os seus 38 mil postos de vacinação do SUS espalhados pelo país”, enfatizou Ana. 
 
A médica pediatra também falou sobre os principais tipos de cânceres afetados pelo HPV, entre eles, cervical, vulvar vaginal, orofaringeo, anal, pênis, dentre outros. Segundo ela, a grande maioria das infecções ocorre nos países mais pobres, os quais não possuem a vacinação contra o vírus. Ana ainda citou que, atualmente, diversos estudos comprovam a segurança e a efetividade da vacina HPV. 

“Quando se compara as mulheres vacinadas com as não vacinadas, encontramos um resultado de 88% menor de risco naquelas que estão imunizadas”, alertou Ana. 

Para encerrar, a representante do Ministério da Saúde destacou sobre a diferença da cobertura vacinal entre os estados brasileiros. Ela citou, por exemplo, que no Paraná, as pessoas com até 18 anos precisam apresentar a caderneta de vacinação nas escolas.

“Essa medida não tem um papel impeditivo, mas isso envolve um amplo trabalho de conscientização entre autoridades públicas, pais e escolas”, ressaltou. 

Dra. Ana também apresentou dados importantes sobre o conhecimento da população sobre a vacina HPV. Segundo a médica, as pesquisas mostram que 20% dos pais e responsáveis achavam que a vacina pode ser prejudicial à saúde. 

Para finalizar, ela alertou que os pais precisam levar seus filhos para se vacinar, sem hesitar, sem medo e sem dar espaço para fake news. 

“A vacinação contra HPV vai permitir que nossos adolescentes tenham um futuro com mais saúde, livre de cânceres relacionados com esse vírus. A hora é agora! Vaciná-los é uma responsabilidade de toda a sociedade”, encerrou Ana.

Rastreamento com teste de HPV 
Julio Teixeira, professor de medicina e pesquisador da Unicamp.

Dr. Júlio falou sobre o atual cenário do câncer de colo do útero no país, com foco na importância do rastreamento com teste de HPV.

Segundo ele, o Brasil tem diretrizes para rastreamento, com o Papanicolau, e também para a vacinação. O médico citou que em Campinas (SP), por exemplo, ⅔ dos casos diagnosticados e tratados no SUS são avançados.

Segundo ele, isso acontece porque a cobertura estimada de mulheres que realizam o Papanicolau deveria ser de 80%, mas na realidade, a taxa chega no máximo aos 30%. Outro grande problema é que não há dados que mostrem as mulheres que não estão fazendo a testagem. Além disso, a informação da mulher que teve o Papanicolau alterado se perde durante todo o processo, e com isso, não é possível saber se ela foi localizada, encaminhada, acolhida e tratada. 

“Os números depois da pandemia serão piores. Esse é o panorama. Nós não estamos conseguindo com nossas ações ter uma queda na mortalidade por câncer de colo do útero.”, afirmou o professor.

Debate com todos os palestrantes
Com a participação da coordenadora-geral de Prevenção de Doenças Crônicas e Controle do Tabagismo do Ministério da Saúde, Patricia Izetti.

Patrícia explicou sobre a Câmara Técnica para Enfrentamento do Câncer de Colo do Útero, no âmbito da Atenção Primária à Saúde, instituída no ano passado pelo Ministério da Saúde. Segundo ela, o objetivo é concentrar os esforços de grupos e especialistas no combate à doença. 

Ela citou alguns dos desafios enfrentados por essa Câmara Técnica, entre eles, a vacinação e o monitoramento das mulheres que realizaram o Papanicolau no SUS. 

Segundo ela, outro gargalo está diretamente ligado ao resultado, tendo em vista que 2 milhões de exames que são registrados como coletados, não têm registro de laudo no Sistema de Informação de Câncer (SISCAN); Outro ponto abordado foi sobre o tratamento, com a dificuldade de acesso e a demora durante toda a jornada.

No final do OncoDebate - Discutindo o Câncer de Colo do Útero e HPV, pacientes e familiares interagiram sobre o tema e tiveram suas dúvidas esclarecidas, sempre com orientações e acolhimento.

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