Outubro Rosa 15 anos: 5 destaques sobre o câncer de mama no Brasil

São Paulo, outubro de 2023 -  A campanha de conscientização sobre o câncer de mama Outubro Rosa completa 15 anos de mobilização no Brasil. Ainda que as primeiras ações relacionadas ao movimento tenham acontecido em 2002, ele só se consolidou em 2008, quando começou a envolver órgãos e associações da sociedade civil de câncer e saúde de todo o país anualmente. Foi nesse período que ocorreram e chegaram grandes avanços científicos que mudaram completamente o cuidado do câncer de mama.

Para Luciana Holtz, psico-oncologista e presidente do Instituto Oncoguia, organização sem fins lucrativos que apoia pacientes com câncer há mais de uma década, a principal evolução no período foi o conhecimento acerca do câncer de mama. “Sabemos muito mais e por isso temos mais condição de diagnosticar precocemente e de tratar melhor mesmo os casos avançados, o que significa curar mais e oferecer mais quantidade e qualidade de vida para as pacientes.”

Entretanto, o país ainda enfrenta um grande desafio: o acesso a todos os avanços da medicina que mudam vidas não é igualitário. “Soluções que fazem com que o câncer não seja uma sentença de morte não chegam para quem mais precisa”, ressalta Luciana. “Nesses 15 anos o movimento cresceu muito, outubro é o mês que o pink predomina, mas a realidade não é tão pink assim.” 

Em comemoração aos 15 anos do Outubro Rosa, o Oncoguia separou cinco pontos importantes para entender como é o cenário do câncer de mama no Brasil hoje.

É o câncer mais incidente do Brasil e merece mais atenção
Sem considerar o câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais frequente no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o número estimado de casos novos é de 73.610 para cada ano do triênio de 2023 a 2025. 

Ele também é a primeira causa de morte por câncer na população feminina no Brasil, em um contexto em que 38% dos óbitos acontecem de forma precoce, ou seja, em pessoas entre os 30 e 69 anos, de acordo com dados do Ministério da Saúde (MS) compilados pelo Radar do Câncer, plataforma organizada pelo Oncoguia. 

A taxa elevada pode ser explicada, em parte, pelo fato que mais de 55% dos pacientes iniciam seus tratamentos com a doença em estágio avançado ou metastático, segundo dados do Radar. Nessas etapas, a cura do câncer já não é mais possível, sendo recomendado tratamentos de controle e manutenção da qualidade de vida.

A adesão à mamografia precisa melhorar 

Um dos fatores que contribuem para a alta taxa de diagnósticos tardios é a adesão ainda insuficiente à mamografia. 

A mamografia é o principal meio de detecção precoce do câncer de mama e o MS recomenda o exame a cada dois anos para mulheres entre os 50 e 69 anos. Entretanto, segundo a última Pesquisa Nacional de Saúde (2019), 24% das mulheres nessa faixa etária dizem nunca ter feito o exame

Em uma pesquisa Datafolha recente, que entrevistou mulheres de 25 a 65 anos, desigualdades sociais foram apontadas como fator que dificulta o acesso à mamografia. Os resultados mostram que apenas 37% das mulheres das classes D/E responderam que fazem o exame regularmente. 

A falta de equidade no acesso à informação também é um obstáculo, principalmente entre as populações mais vulneráveis, que têm dificuldades para o encaminhamento e realização de exames. “Continuamos com inúmeros problemas de desinformação, mitos e preconceitos que dificultam a detecção precoce da doença”, afirma Luciana. “Muitas têm medo de realizar os exames, medo de achar alguma coisa ou não compreendem a importância do exame. Temos que melhorar e ampliar o alcance de informações reais sobre a doença, não só para conscientizar, mas também para tirar esse medo.”

A pesquisa também mostra que duas em cada três brasileiras só fazem exames clínicos de rotina para detecção do câncer de mama ou autoexame quando são estimuladas por médicos ou campanhas de conscientização. Mas a proatividade da população feminina não é o único entrave. “Há ainda a barreira da mulher conseguir priorizar sua saúde e diante disso, conseguir o acesso a exames e especialistas. Se uma campanha incentiva o exame, ele precisa estar disponível e isso não é a realidade atual", pontua a psico-oncologista. 

Leis que garantem o acesso ao cuidado efetivo do câncer de mama surgiram, mas ainda falham na prática

Todas as principais leis que amparam pacientes de câncer de mama no Brasil foram aprovadas nos últimos 15 anos, como:

  • Lei 11.664/2008 que assegura a prevenção, a detecção, o tratamento e o seguimento do câncer de mama no âmbito do SUS. Também conhecida como “lei da mamografia”, a legislação foi um marco para o acesso ao exame pelo sistema público. A legislação foi atualizada em 2022, dando mais abrangência para as ações de rastreamento e detecção precoce do câncer na mulher. 
  • Lei 12.802/2013 que garante a reconstrução mamária logo em seguida à retirada do câncer para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS)
  • De forma similar ao que acontece no SUS, as pacientes de planos de saúde também devem ter direito à reconstrução mamária, garantido desde 2001 pela Lei nº 10.223. Esse direito foi complementado esse ano com a lei 14.538/2023, que assegura a troca de implante mamário colocado em virtude de tratamento de câncer sempre que houver complicações ou efeitos adversos. 

Há ainda as Leis dos 30 e dos 60 dias, aprovadas em 2019 e 2012, respectivamente. A primeira assegura que os exames para confirmação do diagnóstico de câncer devem ser realizados no prazo máximo de 30 dias, contados a partir do início dos sintomas. Já a segunda garante ao paciente com câncer o direito de iniciar o tratamento no SUS em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico da doença. 

Para Luciana Holtz, "as leis nascem tentando resolver o efeito de um sistema de saúde que não está oferecendo os cuidados necessários. Sem dúvida nenhuma fazem a diferença, mas ainda não estão sendo totalmente cumpridas na prática". 

Por exemplo, dados disponíveis no Radar do Câncer mostram que cerca de 45% das pacientes de câncer de mama iniciaram o tratamento em um período acima dos 60 dias nos últimos três anos. 

Ativa e responsável: o novo perfil das pacientes de câncer de mama

O que caminhou bastante nesses últimos anos, segundo a presidente do Oncoguia, é que cada vez mais pacientes diagnosticadas com câncer de mama estão tomando a frente das decisões de seus tratamentos. “Com mais acesso à informação de qualidade e autoconhecimento de si e de seus direitos, as mulheres entenderam que, com sua voz, experiência  e  engajamento, têm um impacto importante na causa”, afirma Luciana. 

Esse envolvimento, que o Oncoguia chama de pacientes ativas e responsáveis, também tem relevância nos espaços de participação social e políticas públicas, “Hoje contamos com vozes potentes, que usam seus canais nas redes sociais para ajudar outras pacientes e somar na discussão sobre prioridades e problemas no cuidado oncológico”, afirma Luciana. “Elas se tornaram verdadeiras defensoras da causa, seja como empreendedoras, influenciadoras digitais ou porta-vozes diretamente envolvidas em desenhos de estudos científicos e participações em espaços políticos.”

Como exemplo, Holtz elenca as criadoras de conteúdo como Mariana Fernandes, conhecida também como Mari Anjo Rosa (@mari.anjorosa), Carolina Magalhães, idealizadora do projeto Se Cuida Preta (@projetosecuidapreta), Jussara del Moral, do canal Supervivente, no Youtube (@supervivente), e Silvia Ferrite, doutora em Medicina Tropical pela London School of Hygiene, que inclui a ciência em seus depoimentos e ações em prol da incorporação de novos medicamentos e procedimentos no SUS. 

Todas também fazem parte do grupo de voluntários do Oncoguia, que atuam na multiplicação de informação de qualidade e no apoio a outras pacientes. 

Outubro Rosa: ainda há muito o que conquistar

O cenário do cuidado ao câncer de mama está completamente diferente do que há 15 anos, mas ainda há muito o que melhorar e conquistar. 

Apesar da gravidade dos números, ainda enfrentamos enormes desigualdades para alcançar um cuidado mais efetivo, que vai desde de dificuldades no acesso ágil ao exame, à biópsia e a especialistas, passando pela falta de tratamentos corretos para cada tipo de câncer no sistema público. 

"A paciente com câncer de mama que depende do SUS está há anos esperando por tratamentos novos e mais eficazes, já incorporados pela Conitec, e nada acontece". preocupa-se Luciana Holtz. Como exemplo, a presidente menciona os inibidores de ciclina e o trastuzumabe entansina, aprovados pela comissão nos últimos dois anos e que ainda não contam com previsão para quando estarão disponíveis nos hospitais públicos. 

Para ela, precisamos urgentemente de uma linha de cuidado ágil, transparente e com próximos passos bem alinhados. “Diante de uma mamografia alterada, essa mulher tem que ser priorizada e acompanhada, com foco em realizar um diagnóstico precoce. E, diante do câncer de mama, temos que ter disponíveis tratamentos para todos os estágios da doença, seja com foco na cura ou no controle, que também considerem a qualidade de vida e acesso a um cuidado multiprofissional”, finaliza Luciana. 

Informações para a Imprensa
Juliana Stern
[email protected]
(11) 97102-0129

Sobre o Oncoguia
O Oncoguia é uma organização sem fins lucrativos que há 14 anos apoia, informa e defende os direitos dos pacientes com câncer, com o propósito de fortalecer, encorajar e guiar todas as pessoas que convivem com a doença para que passem por esse desafio da melhor forma possível. A instituição atua por meio de projetos e ações de informação de qualidade, educação em saúde, apoio e orientação ao paciente, defesa de direitos e advocacy. Além disso, o Oncoguia dispõe de um canal de atendimento focado no acolhimento e no esclarecimento de dúvidas e resolução de problemas relacionados a acesso, qualidade de vida e direitos dos pacientes. Basta ligar gratuitamente para 0800 773 1666.

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