Pesquisa aponta que mulheres desconhecem as recomendações médicas para a mamografia, privilegiam autoexame e ignoram seus direitos na área da saúde

Embora as sociedades médicas recomendem a realização anual da  mamografia a partir dos 40 anos de idade1, grande parte das mulheres não está  ciente dessa necessidade. Esse é um dos achados da pesquisa Câncer de Mama no Brasil: Desafios e Direitos, realizada pelo Ipec - Inteligência em Pesquisa e  Consultoria com 1.400 mulheres, a pedido da Pfizer. Foram entrevistadas  internautas de São Paulo (capital) e das regiões metropolitanas de Belém (PA),  Porto Alegre (RS), Recife (PE), Rio de Janeiro (RJ) e Distrito Federal, com 20 anos  ou mais de idade.  

Uma em cada quatro mulheres (40%) entrevistadas pela pesquisa acredita que,  em qualquer idade, a mamografia é necessária apenas quando outros tipos de  exames (como o ultrassom) indicam alterações na mama, enquanto 17% não  sabem avaliar se essa conduta seria ou não adequada. Além disso, quase  metade da amostra (48%) tem a falsa percepção de que, caso nenhuma lesão  seja identificada na mamografia, a mulher fica liberada, a partir daquele momento, para fazer apenas o autoexame em casa. 

Erroneamente, 63% das mulheres ouvidas estão convictas de que o autoexame  seria a principal medida para a detecção precoce do câncer de mama. Esse  porcentual chega a 68% entre as entrevistadas mais velhas, com 60 anos ou mais  de idade, justamente a faixa etária sob maior risco para a doença2. “A  mamografia pode detectar tumores menores que 1 cm, enquanto aqueles muito 
pequenos podem não ser perceptíveis ao toque. Além disso, quando a mulher  faz a palpação e não encontra alterações, pode deixar de fazer avaliações de  rotina que detectariam a doença precocemente, quando o prognóstico é muito  melhor”, afirma a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro. 

Uma a cada quatro entrevistadas (26%) também não sabe que mulheres sem  histórico de câncer de mama na família devem fazer mamografia anualmente,  a partir dos 40 anos. O mesmo porcentual de mulheres considera que a  mamografia é necessária apenas a partir dos 55 anos ou a partir do momento  em que a mulher entra na menopausa, uma taxa que chega a 35% entre as  entrevistadas das regiões de Belém e do Recife, bem como também é maior entre aquelas que estudaram somente até o fundamental (43%), na  comparação com o grupo do ensino superior (23%). 

Exames atrasados  
Perguntadas sobre os exames mamários de rotina realizados nos últimos 18 meses,  apenas 47% das mulheres entre 40 e 49 anos entrevistadas pela pesquisa  passaram pela mamografia. Mesmo entre as entrevistadas com 60 anos ou mais  de idade esse porcentual é baixo, chegando a 54% neste segmento. Além disso,  uma parcela importante das participantes afirma que não passou por nenhum exame médico focado nas mamas no período.

Os dados da pesquisa apontam também que os impactos da pandemia de  covid-19 na saúde feminina ainda podem ser sentidos. Uma a cada 10 mulheres  entrevistadas (13%) retomou seus cuidados médicos apenas neste ano de 2023,  quando as autoridades decretaram o fim da emergência de saúde. Por outro  lado, 22% voltaram a essa rotina já em 2021, após receberem a primeira dose da  vacina contra a covid-19, enquanto 21% o fizeram no ano passado, quando  receberam as doses de reforço indicadas para sua faixa etária (conforme indica  o quadro abaixo). 

“Se considerarmos que a pandemia começou no início de 2020, estamos falando  de mulheres que ficaram anos longe do sistema de saúde. Isso significa que  muitos diagnósticos de câncer de mama podem ter deixado de ser feitos de  forma precoce”, complementa Adriana. Há, ainda, uma parcela considerável de respondentes que, até o momento, ainda não retomou seus cuidados médicos, especialmente entre as participantes da região metropolitana do  Recife (PE), onde essa taxa chega a 9%.

Fatores de risco modificáveis são ignorados 
Cerca de um terço (32%) das respondentes entende que o câncer de mama está  relacionado a fatores de risco modificáveis, que dependem do estilo de vida.  Porém, 7 a cada 10 participantes da pesquisa (71%) afirmam que a principal  causa da doença seria a herança genética, ou seja, o diagnóstico de outros  casos do tumor na família. Esse porcentual é sensivelmente maior na região  metropolitana de Porto Alegre (RS), onde a taxa chega a 78%, embora a literatura médica aponte que apenas 5% a 10% do total de casos estão  associados a esse fator2. 

Por outro lado, a maior parte das participantes ignora a relação entre o estilo de  vida e a doença: 70% delas não identificam a associação com o consumo de  bebidas alcoólicas, uma percepção que permeia todas as regiões e faixas  etárias contempladas pela pesquisa. O impacto do excesso de peso, sobretudo  após a menopausa, é outro fator de risco desconhecido pela maioria das  mulheres contempladas pelo levantamento (58%). 

“Estamos falando de uma doença multifatorial, em que hábitos de vida e até  comportamentos sociais, como a redução no número de filhos, são considerados  fatores de risco”, reforça a diretora médica da Pfizer. “Acreditar que a herança  genética é o principal fator que determina o aparecimento da doença desencoraja a adoção de comportamentos que dependem da tomada de  decisões e que realmente podem fazer a diferença nesse contexto, como a  manutenção de um peso saudável, a partir de atividades físicas e alimentação  adequada”, reforça Adriana.  

Se de um lado fatores de risco importantes são ignorados, de outro, mitos antigos  ainda persistem. Mais de um terço das respondentes (37%) tem dúvidas sobre a  relação entre o uso de sutiã com bojo (estruturado) e o risco de câncer de mama:  na região metropolitana de Belém, apenas metade das mulheres entrevistadas  está convicta de que essa associação é falsa. As diferenças de percepção  também variam consideravelmente entre as faixas etárias, com as mais velhas  mais bem informadas a esse respeito. 

A falsa associação entre o surgimento do câncer de mama e fatores subjetivos,  ligados às emoções ou à espiritualidade, é um mito que vem perdendo força  entre as mulheres, mas ainda está presente em parte das entrevistadas: 8% delas  atribuem a doença a esses aspectos, mas esse porcentual era de 14% na edição  2022 da pesquisa realizada pelo Ipec, quando essa mesma pergunta foi  aplicada. Atualmente, a associação do tumor a esses elementos subjetivos (o  surgimento do tumor em decorrência de mágoa e falta de perdão, ou por estar  nos planos de Deus) é mais pronunciada entre as entrevistadas de menor  escolaridade (com ensino fundamental), nas quais esse dado chega a 15%. 

Direitos em saúde
O levantamento realizado pelo Ipec também abordou a percepção das  mulheres sobre seus direitos na saúde, tanto em relação a exames e tratamentos  para o câncer de mama quanto sobre a participação social nas decisões ligadas  ao tema no País e dentro de sua própria família.  

Quatro a cada 10 entrevistadas pela pesquisa do Ipec (45%) desconhecem que  um paciente com câncer tem direito a iniciar seu tratamento na rede pública em  até 60 dias contados após o diagnóstico do tumor e praticamente o mesmo  porcentual (44%) também ignora que, caso exista uma suspeita de câncer, os  exames feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para confirmar o diagnóstico  devem ser realizados em até 30 dias. 

Além disso, menos da metade das respondentes (44%) sabe da existência da  ferramenta de participação social Consulta Pública, que o governo pode usar  para conhecer a opinião da sociedade sobre decisões ligadas às redes pública  ou suplementar de saúde. O conhecimento sobre esse tema é ainda menor entre  as mulheres mais velhas (38%). 

Os dados da pesquisa indicam que em todas as faixas etárias e regiões há pouca  familiaridade sobre as oportunidades de participação social nas decisões de  saúde do País a partir de consultas públicas. Contudo, a região metropolitana de  Belém é a única em que a maioria das respondentes (51%) afirma já ter  participado de um processo desse tipo. Por outro lado, a participação é menor entre as entrevistadas de maior escolaridade (com ensino superior), entre as quais  essa taxa é de 36% - esse porcentual sobe para 48% no grupo com menos anos  de estudo (com ensino fundamental). 

“Precisamos resgatar nas pessoas o senso de cidadania, o que se conecta com  conhecer e exercitar direitos e deveres, em especial com relação à própria  saúde. Conhecer não é privilégio, é oportunidade. E, se eu não me envolvo, alguém vai se envolver por mim”, comenta a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz.  

Cuidados paliativos e o fim da vida 
“Cuidados paliativos são medidas adotadas visando a qualidade de vida do  paciente oncológico e de sua família durante toda a jornada de enfrentamento  da doença, inclusive quando há chance de cura, como forma de prevenir ou  aliviar o sofrimento ao longo desse processo”, diz a oncologista Solange Sanches,  coordenadora da Equipe Mama do Centro de Referência de Tumores de Mama  do AC Camargo Câncer Center. Entre as mulheres que participaram do  levantamento, contudo, menos da metade (47%) tem essa percepção  adequada sobre o tema e existe uma variação importante conforme os anos de  estudo da mulher: a taxa vai de 30% entre aquelas com ensino fundamental para  51% no grupo com ensino superior.  

A pesquisa também investigou a percepção das mulheres sobre medidas e  decisões relacionadas aos pacientes terminais, no que se refere às ações de  médicos, familiares e amigos de um paciente quando a possibilidade de morte  parece inevitável e previsível. A maioria delas (68%) afirma que não saberia como  agir em uma situação como essa, taxa que alcança 75% entre as mais novas, de  20 a 29 anos de idade.  

As participantes da pesquisa esperam que os médicos sejam sinceros sobre o  tempo de vida esperado para um paciente oncológico, considerando que ele pode querer se preparar para esse momento ou se despedir de alguém. Essa é a  percepção de 77% das entrevistadas. Para 30%, em contrapartida, esse tema  não deveria ser abordado com o paciente pelos profissionais, para que ele não  passe seus últimos momentos angustiado ou triste. 

Ainda em relação aos pacientes terminais, embora 72% das mulheres ouvidas  estejam de acordo com a ideia de que a família tem o dever de compartilhar  com o paciente uma informação tão séria como o tempo de vida esperado, 41%  dizem que os médicos deveriam revelar essa informação apenas aos familiares,  ficando a cargo deles a decisão de compartilhar ou não a notícia. É forte a  percepção, contudo, de que a família deve respeitar qualquer decisão de um  paciente terminal, mesmo que ele decida não se tratar mais: 79% estão de  acordo com essa conduta.

A pesquisa aponta, ainda, que a maior parte das mulheres entrevistadas não tem  conhecimento adequado sobre o testamento vital, que permite a toda pessoa a  definição de quais tratamentos ela deseja receber caso enfrente uma doença  terminal e incurável: apenas 27% da amostra tem essa percepção sobre o  documento, enquanto 41% desconhecem a ferramenta. Entre as respondentes com 60 anos ou mais de idade, 12% acreditam que o testamento vital ainda não  é permitido no Brasil.  

Tratamento e acesso 
Quando perguntadas sobre a evolução do tratamento do câncer de mama no  Brasil nos últimos cinco anos, a principal percepção das mulheres é a de que “o  tratamento está cada vez mais eficaz, com menos efeitos colaterais,  proporcionando uma vida melhor e mais longa”: essa é a opinião de 36% das  respondentes, mas a taxa sobe para 47% entre aquelas com 60 anos ou mais de  idade. Uma pequena parte da amostra (13%), contudo, ainda não está  convencida da possibilidade de tratar o tumor em fase metastática. 

Ainda em relação à evolução do tratamento do câncer de mama no Brasil, 28%  das entrevistadas apontam para o acesso desigual no País. Além disso, uma em  cada 5 respondentes a partir de 60 anos de idade acredita que, embora o  tratamento tenha avançado bastante no mundo, as brasileiras ainda não têm  acesso a muitas medicações usadas fora do País.  

Na opinião de 19% das mulheres entrevistadas, o tratamento avançou para  quem tem plano de saúde, mas as pacientes da rede pública não têm acesso  às medicações mais modernas: essa visão é sensivelmente maior na região  metropolitana do Rio de Janeiro, onde 23% das participantes concordam com a  afirmação. Vale destacar, ainda, que 23% das mulheres mais jovens ouvidas pelo  levantamento, entre 20 e 29 anos de idade, não têm nenhuma informação sobre  o tratamento do câncer de mama no Brasil.

Material enviado pela assessoria da Pfizer.

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