Terapia medicamentosa para mieloma múltiplo
Diferentes tipos de medicamentos podem ser usados no tratamento do mieloma múltiplo.
Quimioterapia
A quimioterapia utiliza medicamentos anticancerígenos para destruir as células tumorais. Por ser um tratamento sistêmico, a quimioterapia atinge não somente as células cancerígenas como também as células sadias do organismo. Esses medicamentos podem ser administrados por via venosa ou por via oral.
No passado, a quimioterapia fazia parte do tratamento principal para o mieloma múltiplo. Mas , nos últimos tempos, com o surgimento de novos tipos de medicamentos, a quimioterapia tornou-se menos importante no tratamento do mieloma, embora ainda seja usada em algumas situações.
Os medicamentos quimioterápicos utilizados no tratamento do mieloma múltiplo incluem:
- Ciclofosfamida.
- Etoposide.
- Doxorrubicina.
- Doxorrubicina liposomal.
- Melfalano.
- Melfalano flufenamida.
- Bendamustina.
Às vezes, esses fármacos são combinados com outros tipos de medicamentos, como os corticosteroides ou agentes imunomoduladores. Se um transplante de medula óssea estiver programado, determinados medicamentos, como o melfalano, serão evitados, porque podem causar danos à medula óssea.
Efeitos colaterais da quimioterapia. Os quimioterápicos não só atacam as células cancerígenas, mas também algumas células normais, o que pode levar a efeitos colaterais. Esses efeitos dependem do tipo de medicamento, da dose administrada e da duração do tratamento. Os efeitos mais frequentes podem incluir:
- Perda de cabelo.
- Inflamações na boca.
- Perda de apetite.
- Náuseas e vômitos.
- Diarreia ou constipação.
- Diminuição das taxas sanguíneas.
- Infecções, devido a diminuição dos glóbulos brancos.
- Cansaço ou falta de ar, devido a diminuição dos glóbulos vermelhos.
- Hematoma ou hemorragia, devido a diminuição das plaquetas.
A maioria dos efeitos colaterais é temporária e desaparece após o término do tratamento.
Se você apresentar quaisquer efeitos colaterais, entre em contato com seu médico, imediatamente, para que ele possa prescrever medicações para aliviá-los.
Além desses efeitos colaterais temporários, alguns medicamentos quimioterápicos podem danificar permanentemente determinados órgãos, como o coração ou os rins. Os possíveis riscos desses medicamentos são cuidadosamente balanceados contra seus benefícios, e a função desses órgãos são monitoradas durante o tratamento. Se ocorrerem danos importantes aos órgãos, o tratamento é interrompido e o medicamento quimioterápico, às vezes, substituído por outro.
Corticosteroides
Os corticosteroides, como dexametasona e prednisona, são uma parte importante do tratamento do mieloma múltiplo e podem ser utilizados sozinhos ou combinados com outras drogas. Os corticosteroides também ajudam a diminuir sintomas, como náuseas e vômitos, causados pela quimioterapia.
Efeitos colaterais dos corticosteroides. Os efeitos colaterais comuns desses medicamentos incluem:
- Hiperglicemia (nível elevado glicose no sangue)
- Aumento de apetite e ganho de peso.
- Problemas do sono.
- Alterações no humor.
Quando usados por um longo tempo, os corticosteroides suprimem o sistema imunológico, levando a um aumento do risco de infecções. Os esteroides também podem enfraquecer os ossos. A maioria destes efeitos desaparece com o término do tratamento.
Agentes imunomoduladores
A forma como os agentes imunomoduladores afetam o sistema imunológico não é clara. Três agentes imunomoduladores são usados no tratamento de mieloma múltiplo. A talidomida, que foi o primeiro medicamento desenvolvido provocou defeitos congênitos importantes quando administrado durante a gravidez. Como os outros agentes imunomoduladores estão relacionados com a talidomida, existe a preocupação de que, também, possam causar defeitos congênitos. Por essa razão, esses medicamentos só são fornecidos através de um programa especial gerenciado pela empresa farmacêutica que os produz.
Como esses medicamentos podem aumentar o risco de coágulos sanguíneos, muitas vezes, são administrados junto com aspirina ou um anticoagulante.
- Talidomida. Já foi usada como sedativo, até ser descoberto que causava defeitos congênitos e foi retirada do mercado. Posteriormente, foi novamente disponibilizada como um tratamento para o mieloma múltiplo. Os efeitos colaterais da talidomida incluem sonolência, fadiga, constipação e neuropatia. Existe também um risco aumentado de formação de coágulos sanguíneos.
- Lenalidomida. É um medicamento similar à talidomida, que apresenta bons resultados para o mieloma múltiplo. Os efeitos colaterais mais frequentes da lenalidomida são trombocitopenia e diminuição dos glóbulos brancos do sangue. Ela também pode causar danos aos nervos. O risco de formação de coágulos de sangue não é tão elevado como o observado com a talidomida, mas ainda assim é alto. Em pacientes com doença em remissão após um transplante de células tronco ou do tratamento inicial, a lenalidomida pode ser administrada como tratamento de manutenção para prolongar a remissão.
- Pomalidomida. Esse medicamento, também, está relacionado com a talidomida no tratamento do mieloma múltiplo. Alguns efeitos colaterais frequentes incluem a diminuição das taxas sanguíneas. O risco de neuropatia não é tão importante como com outros fármacos imunomoduladores, mas também está associado a um risco aumentado de formação de coágulos sanguíneos.
Inibidores do proteassoma
Os inibidores do proteassoma freiam os complexos enzimáticos (proteassomas) nas células quebrando proteínas importantes para manter a divisão celular sob controle. Eles parecem afetar células tumorais mais do que as células normais.
- Bortezomibe. O bortezomibe é muitas vezes utilizado para tratar o mieloma múltiplo. É administrado via intravenosa ou subcutânea, uma ou duas vezes por semana. Os efeitos colaterais desse medicamento incluem náuseas, vômitos, cansaço, diarreia, constipação, diminuição das taxas sanguíneas, febre, diminuição do apetite, hematomas, hemorragias e infecções. Bortezomibe também pode causar neuropatia periférica, que resulta em problemas de dormência, formigamento ou até mesmo dor nas mãos e nos pés. Em pacientes com doença em remissão após um transplante de células tronco ou do tratamento inicial, o bortezomibe também pode ser administrado como tratamento de manutenção para prolongar a remissão.
- Carfilzomibe. É um inibidor do proteassoma para tratamento do mieloma múltiplo em pacientes que já foram tratados com outros medicamentos que não responderam. É administrado por via intravenosa, geralmente em um ciclo de 4 semanas. Para evitar problemas como reações alérgicas durante a infusão, a dexametasona é, muitas vezes, administrada antes de cada dose no primeiro ciclo. Os efeitos colaterais incluem náuseas, cansaço, vômitos, diarreia, febre, falta de ar, diminuição das taxas sanguíneas, hematomas, hemorragias, pneumonia, problemas cardíacos e insuficiência renal ou hepática.
- Ixazomib. É um inibidor de proteassoma administrado por via oral, uma vez por semana, durante três semanas, seguida de uma semana de folga. Os efeitos colaterais incluem náuseas e vômitos, diarreia, constipação, inchaço nas mãos ou pés, dor nas costas, hematomas, hemorragia e neuropatia periférica.
Inibidores de histona-desacetilase
Inibidores de histona-desacetilase são um grupo de medicamentos que podem afetar os genes ativos no interior das células, por meio da interação com proteínas cromossômicas denominadas histonas.
- Panobinostate. É um inibidor de histona-desacetilase que pode ser usado no tratamento de pacientes que já foram tratados com bortezomibe e um agente imunomodulador. É administrado via oral, três vezes por semana, durante duas semanas, seguido por uma semana de descanso. Os efeitos colaterais incluem diarreia, sensação de cansaço, náuseas, vômitos, perda de apetite, inchaço nos braços ou pernas, febre e fraqueza. Esse medicamento também pode afetar as taxas sanguíneas e o nível de determinados minerais no sangue. Outros efeitos colaterais menos frequentes podem incluir hemorragia, lesão hepática e arritmias cardíacas.
Anticorpos monoclonais
Os anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imunológico do corpo para combater as infecções. Os anticorpos monoclonais são versões produzidas para atacar um alvo específico, como as proteínas na superfície das células do mieloma.
- Daratumumabe. É um anticorpo monoclonal que se liga à proteína CD38, encontrada nas células do mieloma, destruindo as células cancerígenas e ajudando o sistema imunológico a atacá-las. É frequentemente administrado por via intravenosa. Uma nova forma desse medicamento, conhecida como daratumumabe e hialuronidase, pode ser administrada como injeção subcutânea. Qualquer uma das formas desse medicamento pode causar reação em alguns pacientes enquanto está sendo administrado ou poucas horas após a injeção. Os sintomas podem incluir tosse, dificuldade respiratória, aperto na garganta, nariz escorrendo ou entupido, tonturas ou vertigens, dor de cabeça, erupção cutânea e náusea. Outros efeitos colaterais podem incluir fadiga, dor nas costas, febre, risco de infecções, hemorragia e hematomas.
- Isatuximabe. É um anticorpo monoclonal que se liga à proteína CD38 encontrada nas células do mieloma, destruindo as células cancerígenas e ajudando o sistema imunológico a atacá-las. É administrado por via intravenosa. Esse medicamento pode causar uma reação em alguns pacientes durante a administração ou poucas horas após a aplicação. Os sintomas podem incluir tosse, respiração ofegante, dificuldade respiratória, aperto na garganta, calafrios, sensação de tontura ou vertigens, dor de cabeça, erupção cutânea e náuseas. Os efeitos colaterais mais frequentes desse medicamento incluem infecções respiratórias e diarreia. Também pode provocar diminuição das taxas sanguíneas, o que pode aumentar o risco de infecções, hemorragia e hematomas, e fazer o paciente se sentir mais cansado.
- Elotuzumabe. É um anticorpo monoclonal que se liga à proteína SLAMF7, encontrada nas células do mieloma, ajudando o sistema imunológico a atacar as células cancerígenas. É administrado por via intravenosa. Esse medicamento pode causar reação em alguns pacientes enquanto está sendo administrado ou poucas horas após a injeção. Os sintomas podem incluir febre, calafrios, tonturas ou vertigens, erupção cutânea, chiado no peito, dificuldade respiratória, aperto na garganta ou nariz escorrendo ou entupido. Os efeitos colaterais incluem fadiga, febre, perda de apetite, diarreia, constipação, tosse, neuropatia periférica, infecções do trato respiratório superior e pneumonia.
- Belantamab mafodotin-blmf. É um anticorpo conjugado que pode ser usado isoladamente no tratamento do mieloma múltiplo, principalmente em pacientes que já fizeram pelo menos quatro outros tipos de tratamentos para o mieloma, incluindo inibidores de proteassoma, medicamentos imunomoduladores e um anticorpo monoclonal para CD38. Esse medicamento é administrado por via venosa, a cada três semanas. Os efeitos colaterais frequentes incluem cansaço, febre, náuseas e reações quando ao medicamento durante a administração.
Inibidor de exportação nuclear
- Selinexor. É um medicamento conhecido como inibidor de exportação nuclear, que age bloqueando a proteína XPO1. Quando a célula do mieloma não consegue transportar proteínas de seu núcleo, a célula morre. Esse medicamento é usado com dexametasona para pacientes cujo mieloma foi tratado e não responde a pelo menos cinco outros medicamentos, incluindo inibidores de proteassoma, medicamentos imunomoduladores e um anticorpo monoclonal para CD38, ou junto com bortezomib para adultos cujo mieloma continuou crescendo com pelo menos uma outra terapia medicamentosa. É administrado por via oral, semanalmente. Os efeitos colaterais frequentes incluem diminuição das plaquetas, diminuição dos glóbulos brancos, diarreia, náuseas e vômitos, perda de apetite, perda de peso, diminuição dos níveis de sódio no sangue, bronquite e pneumonia.
Usando combinações de medicamentos
Esses medicamentos podem ser usados sozinhos ou em combinação. Muitas vezes, diferentes medicamentos são combinados para o tratamento, por exemplo:
- Lenalidomida (ou pomalidomida ou talidomida) e dexametasona.
- Carfilzomib (ou ixazomib ou bortezomibe), lenalidomida e dexametasona.
- Bortezomibe (ou carfilzomibe), ciclofosfamida e dexametasona.
- Elotuzumabe (ou daratumumab), lenalidomida e dexametasona.
- Bortezomibe, doxorrubicina lipossomal e dexametasona.
- Panobinostate, bortezomibe e dexametasona.
- Elotuzumabe, bortezomibe e dexametasona
- Melfalano e prednisona, com ou sem talidomida ou bortezomibe.
- Vincristina, doxorubicina e dexametasona.
- Dexametasona, ciclofosfamida, etoposídeo e cisplatina.
- Dexametasona, talidomida, cisplatina, doxorubicina, ciclofosfamida e etoposídeo com ou sem bortezomibe.
- Selinexor, bortezomibe, dexametasona.
A escolha e a dose administrada dependerão de alguns fatores, como estadiamento da doença (localização e extensão do câncer), idade e função renal do paciente. Se o transplante de células tronco está programado, a maioria dos médicos evita o uso do melfalano, que pode provocar danos à medula óssea.
Bisfosfonatos para doença óssea
As células do mieloma podem provocar enfraquecimento e fratura dos ossos. Os bisfosfonatos podem ajudar os ossos a se manterem fortes, uma vez que diminuem a velocidade desse processo.
Os bisfosfonatos padrões usados no tratamento dos problemas ósseos dos pacientes com mieloma são o pamidronato, ácido zoledrônico e denosumabe. Esses medicamentos são administrados por via intravenosa inicialmente uma vez por mês, podendo se reduzir o intervalo de administração se houver uma boa resposta. O tratamento com bisfosfonatos evita danos ósseos principalmente em pacientes com mieloma múltiplo.
Um efeito colateral raro, mas grave dos bisfosfonatos é a osteonecrose de mandíbula. Não se sabe ao certo porque isso acontece, portanto, a melhor opção é preveni-la. O único fator que parece aumentar o risco osteonecrose é a cirurgia da mandíbula ou a remoção de um dente. Portanto, esses procedimentos devem ser evitados enquanto o paciente está em tratamento com bisfosfonatos. Muitos médicos recomendam que os pacientes façam um check-up dentário antes de iniciar o tratamento. Se a osteonecrose de mandíbula ocorrer, o tratamento deve ser interrompido.
Uma maneira de evitar esses procedimentos odontológicos é manter uma boa higiene bucal com uso do fio dental e uma boa escovação, além de exames dentários regulares. Qualquer dente ou infecção gengival devem ser imediatamente tratados. Obturações dentárias, procedimentos de canal e coroas de dentes não parecem levar à osteonecrose de mandíbula.
Para saber se o medicamento que você está usando está aprovado pela ANVISA acesse nosso conteúdo sobre Medicamentos ANVISA.
Para saber mais sobre alguns dos efeitos colaterais listados aqui e como gerenciá-los, consulte nosso conteúdo Efeitos Colaterais do Tratamento.
Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, em 01/03/2021, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.