Transplante de medula óssea
O transplante de células-tronco, também conhecido como transplante de medula óssea, pode ser utilizado no tratamento de determinados tipos de câncer. Este procedimento, também, pode ser chamado de transplante periférico de células-tronco ou transplante de sangue do cordão umbilical, dependendo da procedência das células-tronco.
Transplantes de células-tronco e medula óssea x tratamento do câncer
Todas as células sanguíneas do corpo - glóbulos brancos, glóbulos vermelhos e plaquetas - começam como células imaturas (jovens) denominadas células-tronco hematopoiéticas.
As células-tronco se originam principalmente na medula óssea, onde se dividem para produzir novas células sanguíneas. Quando as células sanguíneas amadurecem, elas deixam a medula óssea e entram na corrente sanguínea.
As células-tronco produzem três tipos de células sanguíneas que são essenciais para o funcionamento do corpo humano:
- Glóbulos vermelhos (eritrócitos ou hemácias). São responsáveis pelo transporte do oxigênio dos pulmões para todos os tecidos do corpo. Ter poucos glóbulos vermelhos (anemia) pode fazer com que você se sinta cansado e sem fôlego. Isso ocorre porque os tecidos corporais não estão recebendo oxigênio suficiente.
- Glóbulos brancos (leucócitos). São as células de defesa, que ajudam o organismo a combater as infecções causadas por bactérias, vírus ou fungos. Existem diferentes tipos de glóbulos brancos: os neutrófilos (tipo mais importante no combate às infecções) e os linfócitos (linfócitos T, linfócitos B e células natural killer).
- Plaquetas. São pequenas células responsáveis pela coagulação sanguínea. Ter níveis baixos de plaquetas (trombocitopenia) pode aumentar a chance de hemorragias ou o aparecimento de hematomas.
Origem das células-tronco
Dependendo do tipo de transplante a ser realizado, existem três fontes de células-tronco.
- Medula óssea. A medula óssea é um tecido esponjoso, localizada na parte interna central dos ossos. É composta das células formadoras de sangue, células adiposas e tecidos de suporte. Uma pequena fração das células formadoras de sangue são as células-tronco. Os ossos da pelve têm uma maior quantidade de medula e contêm um grande número de células-tronco. Por essa razão, as células dos ossos pélvicos são usadas com mais frequência para o transplante de medula óssea. A medula óssea é coletada com uma agulha do osso ilíaco (osso pélvico), com o doador sob anestesia geral. Esse procedimento é repetido até ter a quantidade de medula óssea suficiente para o transplante. A medula coletada é filtrada, armazenada em uma solução especial e, em seguida, congelada. Quando a medula vai ser usada, ela é descongelada e devolvida ao sangue do paciente como transfusão de sangue. Após a infusão as células-tronco viajam até a medula óssea, onde começam a produzir as células sanguíneas. Os sinais de que novas células sanguíneas estão sendo formadas podem ser verificados com exames de sangue após algumas semanas do transplante.
- Sangue periférico. Normalmente poucas células-tronco são encontradas no sangue periférico, porém, administrar ao doador das células-tronco injeções de fatores de crescimento hematopoiéticos alguns dias antes da coleta, estimula a medula óssea a produzir células sanguíneas. Para um transplante de células-tronco do sangue periférico, as células-tronco são retiradas do sangue, por meio de um cateter que transporta o sangue direto para uma máquina. Essa máquina separa as células-tronco do restante do sangue, devolvendo ao doador as outras células no mesmo procedimento. As células-tronco são filtradas, armazenadas e congeladas até que o paciente esteja pronto para recebê-las e são administradas ao paciente como transfusão de sangue. Uma vez no corpo do paciente (receptor), elas vão para a medula óssea, e começam a produzir novas células sanguíneas normais. As novas células são encontradas no sangue do paciente aproximadamente após quatro semanas.
- Sangue do cordão umbilical. O sangue dos recém-nascidos costumam conter uma grande quantidade de células-tronco. Após o nascimento, o sangue restante na placenta e no cordão umbilical pode ser coletado e armazenado para uso posterior em um transplante de células-tronco. Se necessário o sangue do cordão umbilical pode ser congelado. O transplante de sangue do cordão umbilical utiliza o sangue que normalmente é descartado após o nascimento do bebê. Uma equipe médica treinada garante que o sangue do cordão umbilical seja cuidadosamente coletado. Embora o sangue dos recém-nascidos tenha uma grande quantidade de células-tronco, o sangue do cordão umbilical tem apenas uma pequena fração desse conteúdo. Mas isso é parcialmente compensado pelo fato de que cada célula-tronco do cordão umbilical pode formar mais células sanguíneas do que uma célula-tronco da medula óssea adulta. Ainda assim, os transplantes de sangue do cordão umbilical podem levar mais tempo para acontecer e começar a produzir novas células sanguíneas. O sangue do cordão umbilical é administrado ao paciente como uma transfusão de sangue.
Cânceres que afetam a medula óssea
A maioria dos tipos de câncer que afeta a função da medula óssea são leucemias, mieloma múltiplo e linfomas. Todos esses cânceres começam nas células sanguíneas. Outros tipos de câncer, também, podem se disseminar para a medula óssea, podendo afetar a sua produção e função.
Para certos tipos de leucemia, linfoma e mieloma múltiplo, o transplante de células-tronco pode ser uma parte importante do tratamento. O objetivo do transplante é eliminar as células cancerígenas e as células anormais ou não saudáveis que não estão realizado suas funções adequadamente e fornecer ao paciente novas células-tronco saudáveis.
Resposta do transplante de células-tronco no tratamento do câncer
O transplante de células-tronco é indicado para substituir células da medula óssea acometidas pelo tumor ou destruídas pelo tratamento com quimioterapia e/ou radioterapia.
Existem diferentes tipos de transplantes de células-tronco. Todos utilizam altas doses de quimioterapia, muitas vezes junto com a radioterapia, para destruir as células cancerígenas. Essas altas doses também podem destruir as células-tronco que o paciente ainda possa ter e fazer com que a medula óssea pare de produzir células sanguíneas por um período de tempo. Em outras palavras, todas as células-tronco originais são destruídas. Mas como o corpo precisa de células sanguíneas para funcionar, é nesse momento que o transplante de células-tronco atua. As células-tronco transplantadas “resgatam” a medula óssea, substituindo as células-tronco do corpo destruídas pelo tratamento. Assim, o transplante de células saudáveis permite a administração de doses mais altas de quimioterapia para destruir todas as células cancerígenas, e as células-tronco transplantadas podem se transformar em células sanguíneas maduras e saudáveis que funcionam normalmente livres de doença.
Decidindo fazer um transplante de células-tronco
Embora um transplante de células-tronco ajude alguns pacientes, dando a chance de cura, a decisão de fazer ou não o procedimento não é tão simples. Existem possíveis riscos e complicações que devem ser cuidadosamente avaliados antes do transplante.
O médico deverá conversar com o paciente, comparando os riscos associados ao próprio tumor, com os riscos do transplante. Também devem ser avaliadas outras opções de tratamento ou a participação em estudos clínicos. O estadiamento da doença, a idade do paciente, o tempo desde o diagnóstico até o transplante, o tipo de doador e o estado geral de saúde do paciente devem ser considerados nessa ponderação dos prós e contras antes dessa tomada de decisão.
Abaixo um roteiro de perguntas que podem o orientar numa conversa com seu médico. Alguns pontos são muito importantes e não devem ser deixados de lado:
- O transplante é a melhor opção para o meu caso? Por quê? Qual o objetivo?
- Existem outras opções de tratamento?
- Quais as opções de transplante de células-tronco disponíveis para o meu caso? Por quê?
- Qual é a chance de encontrar um doador compatível?
- Quais são os riscos de fazer outros tratamentos antes do transplante?
- O transplante de células-tronco é considerado experimental para o meu tipo de tumor? Por quê?
- Quais são os riscos do transplante no meu caso?
- Será necessário algum tratamento antes da realização do transplante?
- Poderei ter filhos após o transplante? Quais são minhas opções se eu quiser ter filhos mais tarde?
- Quais os efeitos colaterais esperados após o transplantes?
- Que medicamentos ou cuidados serão usados para controlar os efeitos colaterais?
- Qual o tempo de internação hospitalar para o transplante?
- Poderei receber visitas durante o tempo de internação para o transplante?
- Que tipo de acompanhamento será necessário? Com que frequência?
- Quais são as chances da doença recidivar após o transplante?
- Quando poderei voltar ao trabalho após o transplante?
É muito importante perguntar e esclarecer todas as suas dúvidas. A informação é um direito seu!
Tipos de transplantes de células-tronco e medula óssea
Os transplantes são feitos para devolver as células-tronco quando a medula óssea foi acometida por uma doença, pela quimioterapia ou pela radioterapia. Dependendo da origem das células-tronco, o procedimento é denominado transplante de medula óssea (TMO), transplante de células-tronco do sangue periférico ou transplante de sangue de cordão umbilical. Entretanto, todos podem ser chamados transplantes de células-tronco hematopoiéticas.
Existem dois tipos principais de transplantes:
- Autólogo. Auto significa próprio. As células-tronco em transplantes autólogos vêm da mesma pessoa que fará o transplante, portanto, o paciente é seu próprio doador.
- Alogênico. Alo significa outro. As células-tronco em transplantes alogênicos são de uma pessoa diferente do paciente, ou seja, um doador compatível.
Transplante autólogo de células-tronco
Nesse tipo de transplante, a primeira etapa é remover ou coletar as próprias células-tronco, da medula óssea ou do sangue, que, em seguida, são congeladas. Após a administração ao paciente de altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia como terapia mieloablativa, as células-tronco são descongeladas e devolvidas a ele como uma transfusão de sangue.
Benefícios. Uma vantagem do transplante autólogo de células-tronco é que o paciente está recuperando suas próprias células, com isso ele não precisa se preocupar com a rejeição das mesmas pelo corpo.
Riscos. Os enxertos podem falhar, o que significa que as células-tronco transplantadas não cheguem até a medula óssea e não produzam as novas células sanguíneas. Além disso, os transplantes autólogos podem não produzir o efeito “enxerto versus câncer”. Uma possível desvantagem de um transplante autólogo é que as células cancerígenas podem ser coletadas junto com as células-tronco e depois devolvidas ao corpo do paciente. Outra desvantagem é que o sistema imunológico é o mesmo de antes do transplante, o que significa que se as células cancerígenas foram capazes de escapar do ataque do sistema imunológico antes, poderão fazê-lo novamente.
Transplantes tandem (duplo autólogo)
O transplante tandem, também conhecido como transplante autólogo duplo, consiste em realizar dois transplantes autólogos seguidos. Neste tipo de transplante o paciente recebe dois ciclos de quimioterapia de alta dose como terapia mieloablativa, cada um seguido por um transplante de suas próprias células-tronco. Todas as células-tronco necessárias são coletadas antes do primeiro tratamento quimioterápico de alta dose, e metade delas é usada para cada transplante. Normalmente os dois ciclos de quimioterapia são administrados dentro de seis meses. O segundo ciclo é administrado após o paciente se recuperar do primeiro. Muitas vezes, um transplante autólogo seguido de um transplante alogênico também pode ser chamado de transplante tandem.
Transplante alogênico de células-tronco
O transplante de células-tronco alogênico usa células-tronco de doadores compatíveis. O melhor doador é um familiar próximo, geralmente um irmão ou irmã. No caso de não existir um parente próximo, o doador pode ser encontrado na população em geral por meio de um registro nacional de doadores. O transplante alogênico é similar ao transplante autólogo. As células-tronco são coletadas do doador e armazenadas ou congeladas. Após a administração de altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia como terapia mieloablativa, as células-tronco do doador são descongeladas e administradas ao paciente.
Benefícios. As células-tronco doadas produzem suas próprias células imunológicas, ajudando a destruir quaisquer células cancerígenas remanescentes após o tratamento com altas doses (efeito enxerto versus câncer ou efeito enxerto contra tumor). Outra vantagem é que pode ser solicitado que o doador doe mais células-tronco ou até mesmo glóbulos brancos, se necessário, já que as células-tronco de doadores saudáveis estão livres de células cancerígenas.
Riscos. O transplante pode não durar, ou seja, as células-tronco transplantadas podem morrer ou serem destruídas pelo corpo do paciente antes de se instalarem na medula óssea. Outro risco é que as células imunológicas do doador podem atacar também as células saudáveis do corpo do paciente, conhecida como doença enxerto contra hospedeiro (DECH). Existe, também, um pequeno risco de desenvolver determinadas infecções das células do doador. No entanto, existe um risco maior de infecções que o paciente teve anteriormente e que seu sistema imunológico já controlava. Essas infecções podem surgir após o transplante alogênico porque o sistema imunológico é suprimido por medicamentos imunossupressores.
Mini-transplante (transplante não mieloablativo)
Para alguns pacientes, a idade ou determinadas condições de saúde tornam arriscada a terapia mieloablativa com quimioterapia e/ou radioterapia que suprime toda a medula óssea antes do transplante. Para esses pacientes, pode ser feito um tipo de transplante alogênico que, às vezes, é denominado mini-transplante. Os pacientes que fazem um mini-transplante, geralmente recebem doses mais baixas de quimioterapia e/ou radioterapia do que se estivessem fazendo um transplante mieloablativo convencional. O objetivo do mini-transplante é destruir algumas das células cancerígenas e suprimir o sistema imunológico o suficiente para permitir que as células-tronco doadoras se instalem na medula óssea.
Ao contrário do transplante alogênico convencional, as células do doador e do paciente permanecem juntas no corpo do paciente por algum tempo após um mini-transplante. Mas, ao longo de alguns meses, as células do doador invadem a medula óssea e substituem às células da medula óssea do paciente. Essas novas células desenvolvem uma resposta imunológica e destroem as células cancerígenas do paciente (efeito enxerto versus câncer).
Uma vantagem do mini-transplante é usar doses mais baixas de quimioterapia e/ou radioterapia. Como as células-tronco não são totalmente destruídas, a taxa de células sanguíneas não diminui tanto enquanto se espera que as novas células-tronco comecem a produzir células sanguíneas normais. Isso é especialmente útil para pacientes idosos ou com outros problemas de saúde.
Transplante de células-tronco singênicas (para pacientes com um irmão idêntico)
Esse é um tipo especial de transplante alogênico que só pode ser feito quando o paciente tem um irmão idêntico (gêmeo ou trigêmeo). Uma vantagem desse tipo de transplante é que a doença enxerto contra hospedeiro não será um problema. Além disso, não existem células cancerígenas nas células-tronco transplantadas.
Uma desvantagem é que, como o novo sistema imunológico é muito parecido com o sistema imunológico do receptor, não existe efeito enxerto versus câncer. Todo esforço deve ser feito para destruir todas as células cancerígenas antes que o transplante seja feito para evitar a recidiva da doença.
Transplante haploidêntico
Grandes avanços foram feitos no aproveitamento de membros da família como doadores. Esse tipo de transplante, denominado transplante haploidêntico, costuma ser indicado para pacientes que não têm um familiar totalmente compatível ou idêntico. Essa pode ser outra opção a considerar, junto com o transplante de sangue do cordão umbilical e o transplante de doador não compatível.
Importância de pacientes e doadores compatíveis
É importante que o doador e o receptor tenham um tecido compatível, afim de evitar a rejeição do enxerto. A rejeição do enxerto ocorre quando o sistema imunológico do receptor reconhece as células do doador como estranhas e tenta destruí-las, como faria com uma bactéria ou vírus. A rejeição do enxerto pode levar à falha do enxerto, mas costuma ser raro quando o doador e o receptor são compatíveis.
Um problema que ocorre frequentemente, é quando as células-tronco doadas produzem suas próprias células imunológicas e as novas células identificam as células do paciente como estranhas e as atacam, isto é conhecido como doença enxerto contra hospedeiro (DECH). As novas células-tronco transplantadas atacam o corpo da pessoa que recebeu o transplante. Essa é outra razão da importância do doador ser o mais compatível possível.
Doação de células-tronco e medula óssea
As pessoas geralmente se voluntariam para doar células-tronco para um transplante alogênico porque têm um parente ou amigo que precisa de um doador compatível ou porque querem ajudar a outras pessoas. Algumas doam suas células-tronco para que possam recuperá-las mais tarde, caso precisem de um transplante autólogo.
Doação de células-tronco para outra pessoa
Existem diretrizes clínicas para proteger a saúde de potenciais doadores, bem como a saúde de pacientes transplantados de medula óssea e células-tronco. Muitos fatores são considerados para determinar se uma pessoa é considerada elegível para ser um doador.
Pessoas, incluindo pacientes que tiveram câncer, que queiram doar células-tronco ou ingressar em um registro de voluntários, podem verificar a lista de elegibilidade disponível. Também podem entrar em contato com profissionais de saúde ou com pessoas responsáveis por programas de doação de medula óssea, para encontrar o centro de doadores mais próximo. Os doadores em potencial respondem um questionário padrão para garantir que estejam saudáveis o suficiente para doar e não representem um risco de infecção para o receptor.
Consentimento informado e exames adicionais
Se um possível doador de células-tronco for compatível com um receptor, são tomadas medidas para orientar o doador sobre o processo de transplante e garantir que ele esteja tomando uma decisão consciente e informada. Ao decidir doar, a pessoa deve preencher um formulário de consentimento que deve ser assinado após entender e discutir os riscos da doação que, eventualmente, será realizada. Ser doador é sempre uma escolha individual de solidariedade e empatia.
Se uma pessoa decidir ser doadora, será realizado um exame clínico e exames de sangue para garantir que ela esteja em perfeitas condições de saúde para a realização do procedimento.
Coletando as células-tronco
As células-tronco podem ser coletadas de três fontes diferentes:
Coleta de células-tronco da medula óssea
Esse processo é, muitas vezes, denominado coleta de medula óssea. É realizado em centro cirúrgico, com o paciente sob anestesia geral. As células da medula são retiradas da parte posterior do osso pélvico.
Terminada a coleta da medula óssea, o doador fica numa sala de recuperação. Após esse período o doador é transferido para um quarto do hospital, sendo liberado assim que for capaz de se alimentar sozinho. Na maioria dos casos, o doador tem alta hospitalar dentro de algumas horas.
O doador pode sentir dor, formação de hematomas na parte posterior do quadril e na região lombar por alguns dias. A maioria dos doadores retorna às suas atividades habituais em dois ou três dias após o procedimento.
Não existem grandes riscos para os doadores e, embora seja raro ocorrer uma complicação devido ao procedimento, podem incluir-se: reação aos anestésicos, infecção, lesões nos nervos ou músculos, reações transfusionais ou lesões no local da inserção da agulha.
Coleta de células-tronco do sangue periférico
Alguns dias antes de iniciar o processo de doação, o doador recebe uma injeção diária de filgrastim (fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF). que faz com que a medula óssea produza e libere células-tronco no sangue. O filgrastim pode provocar alguns efeitos colaterais, sendo os mais frequentes dor nos ossos e dor de cabeça, que podem ser aliviados com o uso de analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroides. Outros efeitos colaterais possíveis incluem náuseas, sonolência, febre e cansaço, que desaparecem uma vez concluído o procedimento.
Após a administração das injeções, o sangue é retirado por meio de um cateter venoso. Em seguida, em uma máquina, as células-tronco são separadas das células sanguíneas, de modo que as células-tronco são coletadas e o restante do sangue é devolvido ao doador. Esse processo é conhecido como aférese. É um procedimento ambulatorial, que demora de duas a quatro horas.
Os possíveis efeitos colaterais devido ao procedimento podem incluir problemas na colocação do cateter, obstrução do cateter, infecção do cateter ou na área de inserção na veia e formação de coágulos sanguíneos. Durante o procedimento de aférese, os doadores podem apresentar problemas provocados pelos baixos níveis de cálcio dos anticoagulantes administrados para prevenir a coagulação do sangue na máquina, que podem incluir sensação de tontura ou formigamento e calafrios ou cãibras musculares.
Coleta de sangue do cordão umbilical
O sangue do cordão umbilical é o sangue que resta na placenta e no cordão umbilical após o nascimento do bebê. A coleta não representa nenhum risco à saúde do bebê ou da mãe. O transplante de sangue do cordão umbilical utiliza o sangue que seria descartado. Depois que o cordão umbilical é pinçado e cortado, a placenta e o cordão umbilical são limpos. O sangue do cordão umbilical é colocado em um recipiente estéril, misturado com um conservante e congelado até que seja necessário.
O transplante de células-tronco ou medula óssea
Quando é tomada a decisão de fazer um transplante de células-tronco ou medula óssea, existem várias etapas envolvidas no processo.
Avaliação e preparação para o transplante
Inicialmente, o paciente será avaliado para verificar se é elegível para o transplante. Para muitos pacientes, o transplante pode significar a cura, mas para outros pode levar a complicações importantes ou, até mesmo, ao óbito. Portanto, é importante pesar os benefícios e riscos antes de começar.
O transplante também pode ser difícil, emocionalmente falando. Geralmente exige internação hospitalar, isolamento, além de um alto risco de efeitos colaterais. Muitos dos efeitos são de curto prazo, mas alguns problemas podem durar anos, o que pode significar mudanças na maneira como o paciente irá viver.
Antes de decidir fazer um transplante, discuta todo o processo com seu médico, avaliando todos os prós e contras do procedimento. Converse, também, com outras pessoas que já fizeram transplante.
Antes de ser autorizado para realizar o transplante, o paciente passará por várias consultas clínicas e realizará vários exames, que podem incluir:
- Tipagem tecidual HLA.
- Levantamento do histórico clínico e exame físico.
- Avaliação psicológica e emocional.
- Identificação do cuidador principal durante todo o processo de transplante.
- Biópsia da medula óssea.
- Tomografia computadorizada ou ressonância magnética.
- Exames cardiológicos, como eletrocardiograma e ecocardiograma.
- Exames pulmonares, como radiografia de tórax e testes da função pulmonar.
- Consultas com outros médicos, dentista, nutricionista, psicólogo e assistente social.
- Exames de sangue, como hemograma completo, bioquímica sanguínea e rastreamento para a presença de vírus, como hepatite B, CMV e HIV.
Elegibilidade para transplante
Os pacientes jovens, em estágio inicial da doença ou que ainda estão no início do tratamento, geralmente têm melhor prognóstico. Pessoas com problemas de saúde, como doenças cardíacas, pulmonares, hepáticas ou renais, podem não ser elegíveis para um transplante. No entanto, um mini-transplante pode ser uma opção para esses pacientes.
Internação hospitalar ou tratamento ambulatorial
O médico decidirá se o paciente deve fazer o transplante em regime ambulatorial ou hospitalar. No caso de internação hospitalar, provavelmente, o paciente comparecerá ao hospital na véspera para dar início ao tratamento com quimioterapia ou radioterapia pré-transplante.
Para reduzir a chance de infecção durante o tratamento, os pacientes internados são mantidos em quartos isolados com um filtro de ar especial. Se o tratamento for em regime ambulatorial, o paciente receberá instruções sobre como evitar quaisquer infecções.
É importante que o paciente e seus familiares saibam o que esperar, porque uma vez iniciado o tratamento de condicionamento, o mesmo não deve ser mais interrompido.
Tratamento de condicionamento
O condicionamento, também conhecido como tratamento pré-transplante, preparação da medula óssea ou mieloablação, é um tratamento com altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia. É o primeiro passo no processo de transplante e normalmente dura uma ou duas semanas. É realizado por um ou mais dos seguintes motivos:
- Abrir espaço na medula óssea para as células-tronco transplantadas.
- Suprimir o sistema imunológico do paciente para diminuir a chance de rejeição do enxerto.
- Destruir quaisquer células cancerígenas remanescentes no corpo do paciente.
O tratamento de condicionamento é diferente para cada transplante. O tratamento é planejado com base no tipo de câncer, tipo de transplante e em qualquer quimioterapia ou radioterapia prévia.
Se a quimioterapia fizer parte do esquema de tratamento, será administrada por via intravenosa ou por via oral. Se a radioterapia estiver prevista, será administrada em todo o corpo (irradiação do corpo todo), que pode ser administrada em uma única sessão de tratamento ou em doses divididas ao longo de alguns dias.
Essa fase do transplante pode ser desconfortável devido às altas doses do tratamento. A quimioterapia e da radioterapia podem levar a alguns efeitos colaterais, que o paciente pode demorar alguns meses para se recuperar totalmente. O condicionamento também pode provocar menopausa precoce em mulheres e, muitas vezes, infertilidade.
Infusão das células-tronco
Após o tratamento de condicionamento, o paciente terá alguns dias para descansar antes de receber as células-tronco, que serão transplantadas como transfusão de sangue. Se as células-tronco foram congeladas, o paciente pode receber alguns medicamentos antes que as células-tronco sejam administradas, para reduzir o risco de reação aos conservantes usados no congelamento das células.
Se as células-tronco foram congeladas, serão descongeladas em água morna e imediatamente administradas. Nos transplantes alogênicos ou singênicos, as células doadoras podem ser coletadas na sala de cirurgia e, em seguida, processadas em laboratório. Assim que estiverem prontas, as células são devolvidas ao paciente, sem serem congeladas. O tempo necessário para coletar todas as células-tronco depende da quantidade de amostra nas células-tronco. Todo esse procedimento é realizado com o paciente acordado, pois é indolor.
Apesar de raros, os efeitos colaterais que podem ocorrer durante ou logo após a infusão, podem incluir febre ou calafrios, falta de ar, hipotensão, tosse, dor e aperto no peito, diminuição da produção de urina e sensação de cansaço.
Recuperação após a infusão
Nesse período, as células transplantadas começam a se multiplicar e produzir as novas células sanguíneas. O tempo para as taxas sanguíneas voltarem ao nível normal varia de paciente para paciente e com o tipo de transplante, mas geralmente é entre duas e seis semanas.
Logo após o transplante, o paciente será tratado com antibióticos para prevenir infecções. Ele receberá uma combinação de medicamentos antibacterianos, antifúngicos e antivirais. Muitas vezes, serão necessárias transfusões de glóbulos vermelhos e plaquetas até que a medula óssea comece a responder e novas células sanguíneas sejam produzidas pelas células-tronco transplantadas.
Com exceção da doença enxerto contra hospedeiro, que ocorre apenas com transplantes alogênicos, os efeitos colaterais dos transplantes de células-tronco autólogas, alogênicas e singênicas são praticamente os mesmos, podendo incluir problemas gástricos, cardíacos, pulmonares, hepáticos ou renais.
Alta hospitalar após o transplante
O paciente é liberado ao atender os seguintes critérios:
- Sem febre por 48 horas.
- For capaz de tomar medicamentos por 48 horas.
- Se as náuseas, vômitos e diarreia estiverem controladas com medicamentos.
- Taxa de neutrófilos de pelo menos 500 a 1.000/mm3.
- Hematócrito de pelo menos 25% a 30%.
- Taxa de plaquetas de pelo menos 15.000 a 20.000/mm3.
- O paciente tem algum familiar ou cuidador em casa para ajudá-lo.
Efeitos colaterais do transplante de células-tronco ou medula óssea
Abaixo estão relacionados alguns dos principais efeitos colaterais que podem ocorrer, mas, mesmo assim, caso você apresente qualquer um desses efeitos, entre em contato, imediatamente, com seu médico para melhores orientações.
- Dor na boca e garganta. A mucosite é um efeito colateral de curto prazo que pode ocorrer com a quimioterapia e a radioterapia. Geralmente melhora dentro de algumas semanas após o tratamento, mas pode tornar muito doloroso comer e ingerir líquidos.
- Náuseas e vômitos. Como os medicamentos quimioterápicos podem provocar náuseas e vômitos, os médicos geralmente administram medicamentos anti-náusea junto com a quimioterapia para prevenir esses sintomas. O tratamento preventivo deve começar antes da administração da quimioterapia e continuar enquanto houver probabilidade da quimioterapia provocar vômitos, o que pode ocorrer até alguns dias após a última dose.
- Infecção. Durante as primeiras seis semanas após o transplante, até que as novas células-tronco comecem a produzir glóbulos brancos, o paciente pode contrair infecções. As infecções bacterianas são mais frequentes nesse período, mas as infecções virais controladas pelo sistema imunológico podem se tornar ativas novamente. Infecções fúngicas também podem ocorrer porque, após o transplante, o paciente está com poucos glóbulos brancos e eles são as principais células imunológicas que combatem as infecções.
- Sangramento e transfusões. Após o transplante, o paciente tem um risco aumentado de sangramento porque o tratamento de condicionamento destrói a capacidade do corpo de produzir plaquetas, que são as células sanguíneas responsáveis pela coagulação.
- Pneumonite intersticial e outros problemas pulmonares. Pneumonite é um tipo de inflamação no tecido pulmonar que é mais frequente nos primeiros 100 dias após o transplante. Alguns problemas pulmonares podem ocorrer até dois ou mais anos após o transplante. Pneumonia causada por infecção ocorre com mais frequência, podendo ser devido à radioterapia, doença do enxerto contra hospedeiro ou, mais frequentemente, quimioterapia.
- Doença do enxerto contra hospedeiro (DECH). Pode ocorrer em transplantes alogênicos quando as células imunológicas do doador enxergam o corpo do paciente como estranho. As células imunológicas do doador podem atacar determinados órgãos, mais frequentemente a pele, o trato gastrointestinal e o fígado. Isso pode alterar a forma como os órgãos funcionam e aumentar as chances de infecção.
- Doença enxerto contra hospedeiro aguda (DECH-a). Ela pode ocorrer de 10 a 90 dias após o transplante, embora o tempo médio seja cerca de 25 dias. De um terço a metade dos receptores de transplante alogênico desenvolverá a doença enxerto contra hospedeiro aguda. Os primeiros sinais geralmente são erupções cutâneas, queimação e vermelhidão na pele das palmas das mãos e plantas dos pés. Outros sintomas podem incluir náuseas, vômitos, dores abdominal, diarreia, perda de apetite, icterícia, e perda de peso. A doença enxerto contra hospedeiro aguda pode ser prevenida administrando medicamentos que suprimem o sistema imunológico, como esteroides, metotrexato, ciclosporina, tacrolimo ou alguns anticorpos monoclonais.
- Doença enxerto hospedeiro crônica (DECH-c). A doença enxerto contra hospedeiro crônica pode começar de 90 a 600 dias após o transplante das células-tronco. O primeiro sinal geralmente é uma erupção cutânea nas palmas das mãos ou nas plantas dos pés. Outros sintomas de DECH-c podem incluir diminuição do apetite, diarreia, cólicas abdominais, perda de peso, icterícia, aumento do fígado (hepatomegalia), inchaço do abdômen, dor abdominal, aumento dos níveis de enzimas hepáticas no sangue, secura e coceira ocular, secura ou feridas dolorosas na boca, sensação de queimação ao comer alimentos ácidos, infecções bacterianas e falta de ar. A doença enxerto hospedeiro crônica é tratada com medicamentos que suprimem o sistema imunológico, muito parecidos com os usados para a doença aguda.
- Doença hepática veno-oclusiva (VOD). É uma complicação importante na qual pequenas veias e outros vasos sanguíneos dentro do fígado ficam obstruídos. Não é frequente e só ocorre em pacientes que fazem transplante alogênico, principalmente aqueles que receberam busulfan ou melfalano como parte do condicionamento. Ocorre, geralmente, cerca de três semanas após o transplante. É mais frequentes em idosos que tiveram problemas hepáticos antes do transplante e naqueles com doença enxerto contra hospedeiro aguda.
- Falha do enxerto. Os enxertos não têm efeito quando o corpo não aceita as novas células-tronco. A falha do enxerto é mais frequente quando o paciente e o doador não são compatíveis e quando os pacientes recebem células-tronco que tiveram as células T removidas. Também pode ocorrer em pacientes que recebem uma quantidade baixa de células-tronco, como uma única unidade de cordão umbilical.
- Problemas no transplante de longo prazo. A complicação que pode ocorrer após um transplante depende de muitos fatores, como o tipo de transplante realizado, a quimioterapia ou radioterapia pré-transplante administrada, o estado geral de saúde do paciente, a idade do paciente, quando o transplante foi feito, a duração e o grau de supressão do sistema imunológico e se a doença enxerto contra hospedeiro é aguda ou crônica. Esses problemas podem ser provocados pelo tratamento de condicionamento (quimioterapia e radioterapia pré-transplante), especialmente a irradiação total do corpo ou por outros medicamentos administrados durante o transplante. Os possíveis riscos a longo prazo incluem lesões em outros órgãos, recidiva da doença, novos tumores, crescimento anormal de tecidos linfáticos, infertilidade, alterações hormonais (como alterações na tireoide ou na glândula pituitária) e catarata. Os medicamentos usados nos transplantes podem lesionar órgãos, como coração, pulmões, rins, fígado, ossos/articulações e sistema nervoso.
- Recidiva da doença. O objetivo do transplante de células-tronco é aumentar a expectativa de vida, e, em muitos pacientes, curar a doença. Mas, em alguns casos, o câncer recidiva, o que pode acontecer em alguns meses ou anos após o transplante. Se a doença recidivar, as opções de tratamento, geralmente, são bastante limitadas.
- Segundo câncer (novo câncer provocado pelo tratamento). Além da possibilidade do tumor inicial recidivar após o transplante de células-tronco, existe, também, a chance do paciente ter um segundo câncer após o transplante. Estudos mostraram que pacientes que fizeram transplantes alogênicos têm um risco aumentado de um segundo câncer do que aqueles que receberam um tipo diferente de transplante de células-tronco. Os fatores de risco para o desenvolvimento de um segundo câncer estão sendo estudados e podem inclui radioterapia (irradiação do corpo inteiro) e quimioterapia de alta dose como parte do tratamento de condicionamento, tratamento prévio de quimioterapia ou radioterapia, alterações no sistema imunológico (como doença do enxerto contra hospedeiro, transplante alogênico incompatível e terapia imunossupressora), infecção por vírus (como vírus Epstein-Barr, citomegalovírus, hepatite B ou hepatite C).
- Distúrbio linfoproliferativo pós-transplante. É um crescimento descontrolado das células linfáticas, um tipo de linfoma que pode se desenvolver após um transplante alogênico de células-tronco. Está associado às células T e à presença do vírus Epstein-Barr. Quando as células T não estão funcionando bem, os linfócitos B infectados pelo vírus Epstein-Barr podem crescer e se multiplicar. Entretanto, é raro após o transplante alogênico de células-tronco.
- Transplante de células-tronco e fertilidade. A maioria dos pacientes que realizam um transplante de células-tronco ficam inférteis, devido as altas doses de quimioterapia e/ou radioterapia administradas. Esses tratamentos afetam tanto as células normais como as anormais e, muitas vezes, danificam os órgãos reprodutivos. Se ter filhos para você é importante, converse com seu médico sobre como proteger sua fertilidade antes de iniciar o tratamento.
Texto originalmente publicado no site da American Cancer Society, em 20/03/2020, livremente traduzido e adaptado pela Equipe do Instituto Oncoguia.