Confira aqui os depoimentos
-
Ana. - Tumores Cerebrais / Sistema Nervoso Central
"Glioblastoma Multiforme Grau IV."
Quando meu pai adoeceu, eu procurei relatos, testemunhos, qualquer assunto relacionado à doença dele que pudesse me trazer informação e esperança. De verdade, nada me confortou, porque era Glioblastoma Multiforme grau IV. E assim iniciava nossa luta contra, pois o cérebro comanda tudo.
Talvez meu pai tivesse tido uma chance a mais ou por mais tempo se fosse um homem de frequentar médico periodicamente e descobrisse o tumor no início, mas não era o caso. Tudo começou com um formigamento no braço direito. Logo em seguida, veio uma alteração nos movimentos no lado direito do corpo todo, começou a andar meio travado. Corri para uma consulta particular com neurologista, achei que era um derrame. O doutor fez exame físico e já pediu uma ressonância com contraste.
No meio do exame já me chamaram e me disseram a gravidade do problema, estava com edema (líquido acumulado, muita pressão intracraniana) e precisávamos correr pro hospital. Ele podia parar a qualquer momento. Quando cheguei na porta do hospital público, tive sorte e peguei um médico na porta, ele viu o resultado do exame e pediu pra levar meu pai urgente pra internar, mas que teve caso de Glioblastoma na família dele e foi incurável e rápido. Ali eu já estava tendo real noção do que estávamos falando, era o início do fim.
Meu pai se internou e por alí ficou três meses no total. Fez cirurgia após 1 mês de medicação e preparo tratando o edema. Chegou a engordar, ele queria viver. Adorava uma cerveja, fumava até o último minuto antes de paralisar, tomava muito sol durante o trabalho, tudo que contribui para alimentar o crescimento do tumor, porque não sabia que estava doente. Nem dor de cabeça ele tinha. O que eu percebi de mudança nele antes de paralisar o corpo foi o nervosismo dele e a sonolência, além de um certo isolamento social.
Se expressava de forma muito agressiva quando não gostava de algo. Hoje eu sei que era o tumor dando sinais. Após a primeira cirurgia ele só respondia com movimentos do lado não afetado, mas não falava mais. Acredito que ele entendia o que falávamos, mas só olhava. Deu um inchaço que foi necessário outra cirurgia às pressas, ele resistiu novamente. Foi pro quarto e ali passou uns 60 dias. O tumor se espalhou no próprio cérebro gerando mais dois tumores do outro lado e também foi para o pulmão. Tinha febre, usava sonda gástrica para se alimentar. Nesta fase já pedimos a Deus por um fim ao sofrimento e que desse descanso ao meu querido pai, que não voltaria mais pra casa.
Tivemos a oportunidade de viver intensamente o amor e a compaixão, fizemos tudo que foi possível. Todos os dias no hospital. Eu teria vendido a casa para curá-lo, mas não era possível fazer nada. Aceitamos o que os médicos falaram: é um tumor muito agressivo, pouco tempo de vida, até seis meses estando neste estágio. A cirurgia não cura, apenas pode prorrogar o tempo de vida por algumas semanas ou meses. A gente sempre tem esperança, mas foi pior mexer. Cortar, costurar, sedar, tudo isso para algo não curável... Mas eu tenho certeza que faria tudo de novo, sempre em busca de esperança e cura, afinal a gente não sabe o que vem pela frente. Foram tempos de trevas pra família inteira, mas hoje vejo que todos vamos partir de alguma forma e no momento disso acontecer, sempre teremos pessoas para cuidar de nós e segurar nossa mão. Um segurando na mão do outro e na mão de Deus.
Meu pai se foi aos 64 anos com uma doença terrível, mas viveu 64 anos de forma intensa. Teve empresa, 4 filhos, conheceu três netos, viajou, viveu bem. E eu, após três anos consegui vir aqui escrever o que passamos e que pode servir de alerta ou consolo para alguém. Meu coração está em paz depois da tempestade. Tudo passa! E nem toda história termina igual. Cada um tem a sua vida e cada um terá o seu fim no seu devido tempo. Cabe aos que ficam respeitar a hora do outro e só ficar junto, dando força sempre, aproveitando cada segundo de vida que é precioso. Deus está conosco! Eu cheguei a pensar que Deus não existia quando mergulhei na tristeza daquela fase, mas depois entendi tudo. Deus está conosco em todos os momentos inclusive na partida, seja por câncer, seja parada cardíaca, seja AVC, seja outro acidente. Ali era a hora do meu pai, a minha vai chegar, Deus estava com o meu pai e também estará comigo, pois Ele prometeu: "E eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos "