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A.P.M - Câncer de Próstata
"Meu pai, o amor da minha vida, meu amigo, que tinha uma vida tão preciosa ..."
Papai tinha câncer de próstata avançado, perto da bexiga, era grave. Optamos em não contar para ele e fizemos a castração química. Falei para minha família que a quimioterapia e outros tratamentos seriam em vão, mas eu mesma nunca escutei isso da boca do urologista. Ele tinha feito um cateterismo nas carótidas e após os tratamentos, o neurologista falou que ele estava pronto para fazer a biopsia e que iria suspender os anticoagulantes. Falei com o urologista e fiquei no vácuo, não tive a resposta se deveríamos ou não fazer. Meu pai faleceu e me sinto culpada pela morte dele. Nunca irei saber se a quimioterapia ou outro tratamento iria curá-lo, nunca saberei qual o tratamento papai teria optado, pois não contamos para ele. Descobrimos o câncer de papai em setembro e em novembro, pelos exames de sangue, deu anemia profunda - segundo o médico já era um enraizamento na medula óssea, a sua creatinina subiu absurdamente afetando a parte renal, ficou com o pescoço, braços, mãos e barrigas gigantes em dezembro. Em janeiro ele melhorou e fevereiro começou novamente inchar, urinar bem pouquinho, entrou em colapso, quando chegou ao hospital a creatinina estava altíssima, ele estava gigante de inchado e o câncer tinha acabado com todas as proteínas de seu corpo. Ele não tinha nada de proteínas.
Meu pai, o amor da minha vida, meu amigo, que tinha uma vida tão preciosa morreu talvez por minha negligência. Eu deveria ter contado para ele sobre o câncer. Eu deveria ter buscado conselhos com o restante de meus familiares. Estou arrasada, não percebi a gravidade das minhas atitudes. A sensação que tenho é que eu levei meu papai para o matadouro. Entre a descoberta e a morte foram 6 meses. Eu queria poupá-lo da quimioterapia, eu queria me poupar desse tratamento a qual eu teria que acompanhá-lo. Em vida, ele não teve dor, não teve reações adversas com a castração química. Sentia um cansaço absurdo. Foi amado, permaneceu lúcido até a sua morte, eu o beijava e o abraçava muito. O médico, urologista de papai no mês de outubro falou a minha mãe para ela estar preparada para tudo. Enfim... E a conclusão que cheguei, eu não era à pessoa indicada para estar à frente dessa doença. Subestimei essa doença. Fui imatura em não contar para o meu pai o que ele tinha, e fui imprudente em não pedir conselhos para pessoas mais velhas. Eu fui um erro. E fiz uma sucessão de erros. Não sei se conseguirei conviver com isso. Esse é o meu desabafo horroroso. Obrigada.