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Cristiane - Câncer de Esôfago
Um diagnostico devastador - Câncer de esôfago. Tirou meu tudo, minha mãe partiu...
20/05/2019, essa data não esquecerei jamais. Foi numa segunda feira, por volta das 09:00h da manhã, recebi a notícia através do meu pai que acompanhava minha mãe num consultório médico, no qual receberam resultados de uma bateria de exames já antes solicitados. Meu pai me ligou e me disse aos prantos "sua mãe tem câncer, ela não consegue falar agora". Essa frase retine até hoje nos meus pensamentos. Deixei tudo o que estava fazendo e fui diretamente pra casa dos meus pais, e chegando lá minha mãe abraçou-me forte e choramos copiosamente. Logo tomei consciência que o tempo não estava ao nosso favor, e imediatamente fomos tomar todas as providencias. Na cidade na qual moro não há como fazer o tratamento, é necessário se deslocar para uma cidade mais próxima, foi quando que pela graça de Deus minha irmã se dispôs a acolher minha mãe em sua casa e cuidar de tudo, pois ficaria muito mais fácil para minha mãe se submeter a um tratamento tão doloroso sem ter que viajar, pois na cidade que minha irmã mora há tratamento oncológico num excelente hospital e uma equipe maravilhosa, e hoje sou absolutamente grata, pois minha mãe foi inteiramente bem tratada do início ao fim.
Então em junho de 2019 foi marcada sua primeira quimioterapia, minha mãe teve todas as reações esperadas, muitos vômitos, fraqueza, e até mesmo desmaiou, foi muito triste. Portanto, durante quase todo o tratamento seguiu tudo bem, ela fazia uma quimioterapia a cada 28 dias, se recuperava em uma semana e logo ficava tudo bem. E assim foi até março de 2020, minha mãe estava ótima, comia de tudo, viajava, ninguém acreditava que ela tinha câncer, até o dia que meu pai contraiu uma pneumonia, ficou internado 53 dias na UTI, e infelizmente em 18 de maio de 2020 as 11h34m meu pai faleceu, foi como tirar o solo que nos sustenta, uma dor inenarrável, em plena pandemia meu pai falece, sem ao menos nos despedir dele, um velório de 2 horas foi o que tivemos pra nos despedirmos de toda uma vida. E minha mãe? Com toda sua fé imutável, se despediu do meu pai com serenidade e muito amor. Logo após esse vendaval ela retornou ao tratamento, voltou pra casa da minha irmã, e numa consulta já marcada anteriormente o médico responsável por minha mãe se assustou quando verificou os exames que minha mãe acabara de fazer, a frase que o médico usou jamais sairá da minha memória "sua mãe teve uma piora inexplicável, caiu em queda livre". Eu e minha irmã nos desesperamos, pois o tumor original, quase todo ressecado pela quimioterapia continuava sem grandes prejuízos, porém minha mãe teve metástase, e várias infiltrações e nódulos já estavam em seu estomago e fígado. Meu Deus, se pudesse teria escolhido deixar de existir naquele exato momento, toda esperança em nossas almas acabara com aquela notícia. Optamos por não ser tão detalhistas com minha mãe, e pra outro médico ela já foi encaminhada, um médico paliativista que não trataria a cura, pois essa possibilidade já não era mais possível, as quimioterapias foram suspensas, e nenhum tratamento fora recomendado, pois minha mãe já não suportaria, trataria apenas de dar conforto aquela mulher maravilhosa que eu tive a sorte de chamar de mãe. Eu e minha irmã, inconformadas, solicitamos por conta própria outra tomografia, pedimos a opinião de outros médicos, enviamos os exames pra São Paulo, mas nada mudou, infelizmente foi como já sabíamos, não era mais reversível, o fígado da minha mãe já não mais funcionava e também não mais suportava droga alguma. Tivemos essa notícia no início de junho, em julho minha mãe que nunca tinha sofrido dores começou a se queixar, dores que passavam com Dipirona. Já no início de agosto as dores que ela tinha não cessavam nem com morfina. No dia 16 de agosto, num domingo percebemos que sua pele, mucosa e olhos estavam amarelados, bem amarelados (mais tarde descobrimos que amarelado tratava-se de icterícia, uma consequência do fígado muito comprometido) minha mãe teve uma crise surreal de dores, fiquei estarrecida com o sofrimento da minha mãezinha, a levamos pro hospital, ela foi internada, uma bomba difusora de morfina ficou ligada a ela 24 horas, e mesmo assim, quando ela perdia o acesso e se demorassem pra conseguir um novo acesso ela ficava sem a medicação e sem o efeito da morfina ela gemia de dor, quase não conseguia segura-la em seu leito, pois a dor era tanta que ela se debatia. O fígado da minha mãe aumentou tanto de tamanho que comprimia todos os órgãos vizinhos, em razão disso um nervo na coluna era empurrado, causando uma dor gigante. Já com 10 dias de internação, não houve outra maneira, minha mãe teve que ser sedada. Durante os 10 primeiros dias da sua internação, minha mãe louvava e cantava ao Senhor todo o tempo, em momento algum se revoltou, disse palavras de negação ou amaldiçoou a doença. Sempre rezava e agradecia a Deus por tudo. Minha mãe foi a maior lição de humildade e fé que já vivenciei em minha vida. É quase inacreditável ver alguém sentindo as piores dores do mundo e mesmo assim bendizer o Senhor. Por 3 dias ela se manteve sedada, eu e minha irmã que revezarmos no hospital percebíamos minha mãe partir lentamente, perdeu a consciência, não respondia a nada, já tomava banho de leito, usava fralda e nem ao menos se dava conta de tantas e tantas agulhadas. Foi aí, que eu e minha irmã decidimos pedir a Deus o melhor pra nossa mãezinha, pedimos que se não fosse de sua vontade a cura para aquela mulher que foi excepcional em tudo, que ela partisse pra mais perto Dele. E assim foi, numa sexta-feira, dia 28 de agosto de 2020 as 23h34m minha mãe retornou à sua primeira morada, foi pro lado dos anjos do Senhor, onde sempre foi o seu lugar. Ficamos aqui com a saudade latente, as dúvidas que até hoje insistem em machucar o coração, e o consolo de que tudo foi feito para o melhor, para que minha mãe fosse cuidada com todo amor que ela sempre mereceu. E é isso, do diagnostico até o seu falecimento foram 467 dias. Da morte do meu pai para o falecimento da minha mãe foram 104 dias. E assim, a vida nos testou, testou nossa capacidade de continuar sem os nossos genitores, nossos amores. Mas, Deus é maior e a fé me mantem de pé, porque se assim não fosse, não sei explicar como suportei tamanhas perdas em tão pouco tempo. É isso meus amigos, esse é um resumo dos piores dias da minha vida. Paz e amor a todos! E creiam sempre! Abraços!