Confira aqui os depoimentos
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Edilaine Ferreira - Câncer de Mama
"O câncer não é uma sentença de morte."
Me chamo Edilaine, tenho 46 anos, sou casada e mãe de duas meninas. Em 2018, após um longo dia de trabalho, enquanto ajeitava a alça do sutiã, senti um pequeno caroço em meu seio. Fiquei um pouco assustada, mas como não tenho casos de câncer de mama na família, achei que não precisava me preocupar tanto. Esperei o próximo ciclo menstrual para ver se o caroço sumia, pois já tinha ouvido falar que isso poderia acontecer. Para minha surpresa, ele não sumiu.
Diante disso, procurei um posto de saúde que rapidamente me encaminhou para fazer um ultrassom de mama. Confesso que nunca havia feito, pois tinha 40 anos e achava que deveria me preocupar com isso apenas a partir daquela idade. No ultrassom, veio a classificação BI-RADS 4 e já me encaminharam para uma mastologista, que, na primeira consulta, solicitou a biópsia e a fez ali no mesmo instante. Uma semana depois, voltei para ver o resultado, já acompanhada pelo meu marido, pois diante de uma biópsia, as coisas já não são tão simples assim. Aquela médica, com sua voz tão doce e um pouco trêmula, me disse: "Edilaine, esse nódulo que tem no seu seio é um tipo de câncer." Diante dessa frase, a sensação que tive naquele momento foi de que eu iria morrer. Acredito que toda pessoa que recebe essa notícia pensa assim, pois o diagnóstico de câncer ainda é muito estigmatizado.
A partir dali, fui encaminhada para o Hospital do Câncer de Londrina, onde faço meu acompanhamento até hoje. Vi no papel que meu médico mastologista seria o Dr. Bruno André Di Rico. Mal sabia eu como seria tão abençoada por tê-lo como médico, hoje também um grande amigo e um ser humano incrível. Ele usa uma metáfora quando vai nos dar a notícia do câncer: pega uma folha em branco e faz dois riscos representando um rio. No início do rio, faz um X com duas bolinhas ao lado e diz assim: "Edilaine, a partir de agora você vai ter que atravessar esse rio! Esse X é você começando a atravessar e as bolinhas somos nós, a equipe médica e sua família. Nós estaremos juntos com você, mas é você quem tem que nadar. Vai ter momentos em que as braçadas vão ficar pesadas, os braços vão cansar e as correntezas ficarão mais agitadas, mas não desista. Com muita garra, fé e apoio, com certeza você conseguirá chegar do outro lado da margem." Você pode imaginar o impacto que essa metáfora causa em nós ao ouvi-la ali, naquele momento tão difícil! Para mim, foi como um chá de ânimo e, no mesmo instante, eu pensei: eu vou conseguir, eu não estou sozinha.
E assim foi. Passei por todo o processo de quimioterapia neoadjuvante, pois o subtipo era o triplo-negativo, e depois pela cirurgia. No período das quimioterapias, fiz o teste genético, que mostrou a mutação do gene BRCA1. Daí, a cirurgia foi mastectomia total com reconstrução. Posteriormente, fiz as cirurgias preventivas de retirada das trompas e ovários, e a da mama precisei de ajuda financeira para conseguir fazê-la, pois não consegui pelo SUS, já que na minha região não há convênio para esse tipo de cirurgia.
Hoje, seis anos depois, posso dizer que cheguei do outro lado da margem, como meu médico havia dito em sua metáfora. Eu e outras pacientes dele nos juntamos e fizemos um livro para ele, contando nosso depoimento e como a metáfora usada por ele nos trouxe esperança em toda a trajetória. O livro se chama "O Rio Que Atravessamos" e está em formato e-book, que disponibilizamos para outras mulheres que estão começando a atravessar esse rio.
Hoje, contar minha história é para mim uma missão de vida. Onde se tem oportunidade, lá estou, mostrando que o diagnóstico de câncer não é uma sentença de morte. Existe vida depois desse diagnóstico, existe vida feliz depois de tudo isso. Gratidão ao Dr. Bruno Di Rico, sempre.