Confira aqui os depoimentos
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Elizângela. - Câncer de Pâncreas
"Um dia nos encontraremos"
No dia 13/11/2021 convenci meu amor de ir ao hospital, pois ele vinha com vários sintomas, esses nos quais ele já havia passado pelo pronto socorro, medicado e liberado, porém nesse dia eu já estava desconfiada, mas com todos os sintomas já mostrados tinha certeza.
Os sintomas só vieram a aumentar e com a ajuda de um doutor conhecido Jonatas, uma amiga Marli e um enfermeiro Rodrigo conseguimos passar por um primeiro atendimento e fazer os exames de sangue. Os exames mostraram alteração, com isso imediatamente ele foi encaixado no CRAS e em seguida removido para outra unidade e internado.
Na madrugada do dia 14/11/2021 assim que internou já foi realizada uma tomografia com contraste que mostrou que ele tinha câncer no pâncreas e alguns nódulos no fígado: naquele primeiro momento ainda era um ponto de interrogação, pois o hospital não tinha essa especialidade.
Com isso você ainda ficou internado 3 dias, após recebeu alta e passamos um dia juntos fora do hospital, logo depois no dia 17/11/2021 fomos para a primeira consulta na Santa Casa de São Paulo com especialistas. Nesse dia vc estava com muita dor me lembro como se fosse hoje ,você passou pela consulta e os médicos deram certeza do seu diagnóstico, devido ao seu estado já ficou internado para mais exames e possível tratamento.
Lembrando que já se encontrava muito ictérico, já quase sem apetite, já havia perdido peso, ficou internado nesse dia, fiquei com você até anoitecer o dia, depois eu tive que voltar.
Ainda não poderia ficar com acompanhantes, assim no próximo dia pela manhã estava lá de novo. Ele muito chateado, o coração despedaçado e o meu estraçalhado.
Não queria chorar, me fiz de forte, mas ele chorava então não conseguia me segurar, aos poucos as minhas forças se foram e minhas lágrimas vieram.
Eu não conseguia mais segurar, mesmo assim ele dava somente força e palavras de ânimo pois eu não queria que ele desistisse antes mesmo de tentar.
Enfim, começaram as baterias de exames e foi agendado o seu primeiro procedimento que iria anexar uma válvula via endoscópica para desobstruir as vias biliares.
Infelizmente esse procedimento não deu certo, o câncer estava grande, ele voltou para o quarto e lá eu estava com ele, dando forças, ele muito fraco e de jejum.
Passaram-se alguns dias e foi decidido uma cirurgia, no primeiro momento ficamos muito felizes pois achávamos que iria retirar o câncer e depois seguiria só na quimioterapia, mas não foi assim.
Chegou o dia da cirurgia, a Doutora muito simpática e prestativa, todos os dias ia no quarto e explicava os procedimentos que iriam ser adotados, também fez uma carta autorizando que ele ficasse com acompanhante, isso foi muito importante pois poucas vezes você ficou sozinho.
Você foi para o centro cirúrgico e eu fiquei lá fora na porta esperando o fim do procedimento, que durou quase 7 horas,me lembro bem na hora que você passou pelo corredor na maca a caminho da RPA, eu a Neide de coração apertado, ansiosas por um bom resultado.
Essa espera foi além, você retornou para o quarto, por volta de 20 horas da noite, estava com muita dor, de sonda gástrica, de dreno e sonda vesical.
Além da ferida operatória, senti uma dor tão grande, eu estava acostumada a ver essa situação em outros pacientes, mas ver você daquele jeito para mim foi muito difícil e você gemia de dor.
Todo tempo eu pedia forças para Deus, pois você precisava de mim.
Dias difíceis passamos, a sua recuperação da cirurgia não foi das melhores e quando soubemos que não tirou nenhum câncer.
Com muitas idas e vindas e muitos procedimentos, fez endoscopia de urgência, apresentava um sangramento não esperando, depois o HB estava baixo e precisou receber concentrado de hemácias por algumas vezes, no fim foram 25 dias de internação, muita coisa aconteceu, mas o que mais queria era voltar pra casa
Isso aconteceu e com muitas restrições a vida continuou, com um tempo ele voltou a dirigir, algo que ele amava fazer. Fizemos passeios, sessão de foto, fomos à praia, fizemos amor, vivemos até onde deu.
Até que ele começou a sentir dores cada vez mais fortes, até que chegou o dia do retorno médico e alterou as doses das medicações e o encaminhou para quimioterapia.
Ainda iria demorar para a primeira, já que ele ainda necessitava de um cateter para isso, nesse dia também nos foi entregue uma carta que dizia que ele era um paciente paliativo.
O meu chão caiu, mas ele no primeiro momento nem sabia o que era aquilo, e ninguém em momento algum falou pra ele que iria morrer em meses ou em pouco tempo, a única coisa que sabíamos era que tudo que podia ser feito por ele e pela medicina já havia sido feito.
Tínhamos muita fé que um milagre chegaria para a vida dele. Foram muitas orações de todas as partes e em nenhum momento eu deixei ele pensar que morreria. Eu sabia que poderia acontecer, mas eu não queria aceitar e tinha muita fé, e ele também.
Assim ele foi lutando, fomos a igreja num dia que ele estava com muita muita muita dor, não conseguia comer nem dormir. Nesse dia disse a ele vamos lá e ele aceitou, meu irmão veio e nos levou e nos trouxe, nesse dia ele conseguiu dormir um pouco mas depois começou tudo de novo. As medicações cada dia faziam menos efeito, nem dormir mais ele conseguia, mesmo com as gotinhas que o médico havia passado .
Entre uma consulta e outra, nada de passar o cateter, com um tempo ele já havia perdido 30 kg e não estava mais tendo apetite. Ficou muito fraco, mal conseguia ficar em pé sozinho: o banho era sentado com auxílio, pois sozinho não dava mais.
Foi marcado para passar o cateter dia 30 ou 31 de janeiro de 2022, mas chegando lá falaram que o mesmo havia passado por atendimento médico e estava com infecção de urina. Sendo assim cancelaram o procedimento para dia 14 de fevereiro, dentro desse tempo as coisas continuam difíceis, as dores cada vez mais forte.
Duas coisas que ele me disse nunca vou esquecer :que estava lutando por mim para viver e não esqueço também que ele disse que não estava mais aguentando, que ele tava sofrendo muito e o que seria da vida dele, ele se olhava no espelho e via a magreza, quase pele e osso, o que ele comia não era de nada, não fazia nenhum efeito de tão pouco que era.
Ele também não queria ficar no hospital internado, pois para ele seria pior e eu entendia muito bem. Ele só conseguia ficar em uma posição de lado esquerdo, que amenizava um pouco a dor.
No dia 12 de fevereiro ele recebeu a visita de um irmão e cunhada, ele ficou feliz foi como uma despedida. No dia seguinte convidei o primo dele pra visita e ele veio, nesse dia iríamos pescar, pois era o desejo dele, mas com essa visita tão especial era bem melhor que ir pescar.
No dia 13 de fevereiro ele almoçou o que ele mais gostava, o prato preferido: macarrão alho e óleo com brócolis, conseguiu comer e tomou suco, ao entardecer nós fomos com minha irmã Liza no hospital, pois faria exames de sangue para o dia seguinte saber se tinha melhorado da infecção e pegar uma receita da medicação que havia acabado e que não consegui comprar sem receita, por ser tarja preta. Mais tarde a noite um amigo muito querido dele veio nos visitar, Pedrinho, conversaram bastante, deu a ele muita força e fomos dormir
Quando estávamos deitados ele me pediu para abraçá lo-forte que estava com saudades, eu disse a ele mas eu te abraço todo dia e ele disse eu sei mas sinto saudades de outras coisas queria poder fazer mais. Uma dor infinitamente sem explicação que nunca será apagada do meu coração.
Dormimos e quase perdemos a hora, pela manhã tínhamos que estar às 06 horas da manhã na Santa Casa, então tudo combinado meu irmão veio para nos levar, junto com minha cunhada e fomos e estávamos lá na hora marcada. Antes das 8 da manhã o centro cirúrgico o chamou para entrar para o procedimento, fui até a porta do centro cirúrgico, o ajudei tirar as roupas e por a camisola, dei um beijo nele e disse boa sorte amor e foi a última vez que eu o vi com vida.
Foi para o centro cirúrgico, foi sedado, segundo relato o procedimento foi realizado, mas após o término ele rebaixou não havendo possibilidade de extuação e realizaram outro procedimento de passagem de cateter central para receber noradrenalina, que o manteria aparentemente vivo mais algumas horas.
Resumindo fui informada que ele iria para a UTI, eu lá estava aguardando, quando passaram com ele entubado com olhos vendados, recebendo a droga em uma vazão quase impossível de desmame por volta das 15:40 ele foi para a UTI e por volta das 19:00 a médica me chamou para falar do estado dele que era gravíssimo e que ele poderia não sobreviver.
Naquele momento toda esperança que eu sempre carreguei morreu. Ao fim da conversa ela deixou eu vê-lo. Aí entrar naquela UTI, ver as condições que se encontrava, foi difícil para mim mas eu já sabia que estava morto, que sem as drogas que estavam ligadas ele partiria ,em pensar que ele disse que quando chegasse a hora ele não queria sofrer ,que queria que fosse sem dor para ele e para mim, realmente para ele foi sem dor.
Até hoje estou aqui não acreditando que um homem tão forte e cheio de saúde se partiu assim tão novo e cheio de planos: nosso casamento, viagens, tudo que planejamos foi embora junto com ele, a única coisa que me alegra é saber que ele está melhor que eu num bom lugar.