Meu pai sempre dizia que não queria envelhecer. Um câncer de garganta tirou sua vida aos 45 anos — exatamente a idade em que descobri um tumor triplo negativo na mama esquerda. Não acredito em coincidências. Para mim, esse diagnóstico, vindo de exames de rotina que eu já havia adiado cinco vezes, trouxe uma pergunta clara: você quer envelhecer e ver suas filhas crescerem?

Faz um ano que estou em tratamento. Nada é fácil quando se fala de câncer. O diagnóstico, as dúvidas, os tratamentos, os remédios, as pessoas, o julgamento... absolutamente nada é fácil.

Você precisa escolher focar e seguir em frente, sem pensar no final, no término, na finalização do tratamento. Porque, de qualquer forma, você nunca estará completamente livre das sequelas que o tumor deixa — sejam elas visíveis ou não.

Fui julgada impiedosamente e até abusada por não parecer ter câncer. Exceto quando fiquei sem cabelos e sobrancelhas, o tempo todo me diziam que eu estava tão bem que nem parecia doente.

Mas ninguém via o esforço que eu fazia para manter minha rotina, quantas vezes eu corria ao banheiro por causa dos efeitos colaterais. "Nossa, mas você está tão bem!"

No trabalho, as pessoas já começavam a se imaginar no meu lugar. De repente, surgiam profissionais “competentes” de todos os lados. Seriam ratos?

O ser humano é assim mesmo. Dentro da família, discute-se herança. Por que no mundo corporativo seria diferente?

O foco é o que faz o paciente oncológico viver. Mas o foco no outro? Não! O foco tem que estar em você.

Bem-vindo. A viagem dessa vida é para dentro.