No carnaval de 2019 foi quando meu pai, um homem ativo que administrava sua empresa, e ainda sonhava empreender muito mais começou a dar sinais que algo não estava bem.

Ele não conseguia formar frases escritas e a fala começou a ficar comprometida. No início ele dizia que a fala estava "atrapalhada” por causa da prótese dentária e estava na hora de ser trocada. Não demos muita importância, até que em uma manhã de sábado ele acordou com a face retorcida de um dos lados e a fala mais comprometida ainda. 

No hospital entre tantos exames veio a descoberta do Glioblastoma IV que caiu como uma bomba devastando todos da família, nunca imaginei que isso poderia acontecer. Era a última coisa que eu pensei que fosse, achávamos que seria um AVC, pois os exames não foram claros para os médicos daqui no início.

Foi feita a cirurgia e a biópsia constatou que se tratava do Glioblastoma IV e retiraram o que poderia ser retirado e até hoje fico analisando e me perguntando se a cirurgia realmente se faz necessário nesse caso pois todos sabem que as chances eram mínimas.

Após a cirurgia não falava, não andava e não movimentava um dos braços, daí pra frente só foi sofrimento entre idas e vindas e internações. Ele teve várias infecções urinárias, problemas intestinais e pneumonias.  

Numa fase ficou melhor com algumas sessões de fisioterapia e achou que poderia andar, saiu da cama quando por um momento achávamos que estava dormindo e foi ao banheiro, caiu quebrando a clavícula e assim aumentando mais ainda o sofrimento e a dificuldade. 

Ele não urinava normalmente só através de sonda fixa ou manual por isso tantas infecções urinárias. Contratamos fisioterapeutas e fonoaudiólogos, na esperança dele ter uma melhor qualidade de vida. 

Fez sessões de quimioterapia e radioterapia, mas tivemos a esperança de melhora anulada quando nos chamaram e disseram que não havia mais jeito para meu pai e que dessa hora em diante era só tratar sintomas. 

Eu sempre tive medo de que ele sofresse com dores e convulsões, então eu só pedia a Deus que ele não sofresse mais do que já estava sofrendo após o câncer ter retirado tudo que ele mais gostava de fazer, que era viver seu dia a dia e ter autonomia: ele não aceitava nem passear na cadeira de rodas.

Foi tudo muito doloroso, até que as coisas pioraram e numa dessas várias internações ele não mais voltou para casa. Foram 11 meses de muitas lutas e muito sofrimento que não gostaria de ter visto meu paizinho passar.

Ninguém merece isso, lembrar de tudo Isso me dói o coração, mas sinto que relatando talvez alguém que leia e se esteja passando por isso saiba que não está sozinho e reflita também sobre a cirurgia. 

E outra coisa, um ano antes ele realizou uma cirurgia do coração, colocou ponte safena, o que também não foi fácil.

Essa é a história do que aconteceu com meu pai e teve mais fatos que não mencionei, já ficou longa a história mesmo assim. Meu pai não merecia sofrer o tanto quanto sofreu 😢