Confira aqui os depoimentos

  • Lavínia. - Câncer de Via Biliar
    "Meu pai se foi muito cedo."

Bom, não sei nem muito bem como começar, mas vamos lá. Estava eu, Lavínia, com meus 14 anos de idade, e meu pai, com 52 anos, deixando todo seu trabalho que demandava muito tempo de sua vida e que o desgastou demais para vir morar na nossa cidade (meus pais não eram separados; ele apenas não trabalhava na cidade onde morávamos). Decidido a vender sua empresa e poder recomeçar para ter mais tempo ao nosso lado, toda essa transição foi feita do final de 2019 para o começo de 2020.

Até que, em fevereiro de 2020, ele começou a ficar amarelado, apresentando sinais de mal-estar, entre outros. Corremos para a Unimed e nos disseram que poderia ser a vesícula inflamada. Procuramos um gastro na mesma semana e ele indicou um médico em Recife para realizarmos uma pesquisa mais aprofundada. Com esse médico de Recife, foi realizada uma biópsia e já foi colocado um stent. Em média, uma semana depois, veio o diagnóstico que abalou a todos, principalmente ele, que tinha diversos planos para executar após ter deixado sua empresa para trás.

Mas, infelizmente, começamos a trilhar outro caminho, o árduo caminho do tratamento. Assim que saiu o diagnóstico, procuramos um médico na nossa cidade que imediatamente o internou e realizou a sua primeira cirurgia. Além de tudo isso em nossas vidas, o medo da COVID, todos correndo do hospital e ele lá, sem poder sair para não perder a vaga e com medo de pegar essa desconhecida doença. Após a primeira cirurgia, ele cumpriu todo o pós-operatório corretamente, fizemos a quimioterapia preventiva e aí uma luz para a cura.

Passou-se 1 ano e meio para ele voltar novamente e aquele baque enorme, agora pior ainda porque sabemos que a volta é a pior. Fizemos quimioterapia, ele reagiu super bem, chegou a ficar com as taxas excelentes, até que suas plaquetas não subiam mais, fazendo com que o tratamento fosse interrompido. Apesar dele reclamar que estava muito cansado, a sua vontade de viver era enorme, os médicos sempre nos alertando que a recaída quando viesse com força já não iria ter mais o que fazer.

Até que, no final de janeiro de 2024, ele começou a ter dias em que não levantava, já vivia à base de morfina. Quando decidimos interná-lo, ele já estava muito debilitado e teve o que eu acho ser a melhora da morte, onde ele ficou bem por umas duas semanas de fevereiro, estava super ativo, bem e pedindo para vir pra casa. Conseguimos, com muita luta, o homecare, mas em casa ele já não estava mais tão bem, passou uma semana e meia só em casa, até que iríamos para o hospital apenas para fazer um procedimento; ele simplesmente parou de reagir, isso num espaço curto de tempo.

A respiração não era mais a mesma, o olhar já era aquele parado, mas que dava para ver o desespero dele ao nos ver devastados. Uma dor insuportável no peito, uma vontade de ir junto com ele e a negação daquilo que fomos tão avisados, mas infelizmente nunca estaremos prontos. Um leve alívio e suspiro de que ele não estava mais em sofrimento, sendo apenas a única coisa que ele tinha pedido: que não sofresse. Assim foi feito, não o levamos para a UTI e deixamos que ele fosse em sua melhor hora.

Bom, ainda é tudo muito recente. Infelizmente, ele se foi muito novo e agora, aos meus 18 anos, não tenho mais ele ao meu lado. Ainda preciso de tempo para digerir tudo, mas ler relatos me consolam, principalmente saber que o melhor a quem a gente ama, infelizmente, é o descanso. Não vejo muito sobre esse tipo que é o colangiocarcinoma, espero que esse relato possa confortar alguém na mesma situação ou parecida.