Tudo começou com uma simples tontura no final do mês de março de 2021, que tratamos como se fosse labirintite. 

Em meados de abril, vieram dores no ouvido, um incômodo, como se estivesse na altitude, devido a ter colocado prótese dentária recentemente, e como ela "travava" a mandíbula enquanto dormia, procuramos ajuda ortodôntica. 

Em seguida o olho direito começou a ficar com a visão turva, apresentando uma leve dificuldade para enxergar. Esses incômodos apareceram e sumiram na mesma velocidade e por estarmos no pior momento da pandemia da COVID, evitamos ao máximo hospitais. Procurávamos sempre por clínicas e especialistas. 

Toda enfermidade que aparecia íamos tratando, resolvemos um incômodo aparecia outro. Os tratamentos que realizamos davam resultados momentâneos, porque logo aparecia outro incômodo em outro lugar. 

Em questão de alguns dias, não conseguia mais escrever nem ler, não conhecia mais o nosso alfabeto, estava trocando as palavras, não conseguia responder coisas simples, reclamava de dificuldade em enxergar no lado direito, como se estivesse nublado, estava apresentando confusão mental.

 Assustador a velocidade deste tumor, era final de maio de 2021, 60 dias após a primeira crise de tontura e de um dia para o outro ela não conseguia mais ler nem escrever, esqueceu o nome dos objetos, de pessoas, dava respostas sem nexo, frases que não conseguimos entender, misturava as palavras na frase, palavras sem sentido nenhum.

 Tudo ficava no vazio, sem compreensão e nos preocupava o que estava acontecendo com a Júlia, parecia estar ficando louca. Por indicação do otorrino, que percebeu algo errado, em uma das suas avaliações marcamos uma consulta com o neurologista. Foi solicitado uma radiografia da cabeça. 

Descobrimos uma mancha grande no lado esquerdo. Logo veio a internação e a pior notícia que poderíamos ter. Ela tinha um tumor na cabeça de quase 10cm, chamado GLIOBLASTOMA MULTIFORME GRAU 4. Um câncer. 

Nós não tínhamos o menor conhecimento sobre esse tumor e corremos para o Google para entender o que era, se tinha tratamento, e etc. Não conseguimos acreditar que ela tinha esse tumor tão raro. Maria Julia, minha sogra, minha segunda mãe, sempre teve total cuidado com a saúde. Nunca fumou, não gosta de bebida alcoólica, sua alimentação regrada em legumes e verduras, preferência sempre por carne branca, carne vermelha quase nunca, vivia estudando sobre longevidade, era uma pessoa encantadora, cheia de vida, uma batalhadora, professora de pré escola de profissão, estava aposentada, começou agora a curtir a aposentadoria, estava fazendo planos de viajar pelo planeta, e nos perguntamos porque aconteceu isso com ela? 

Ela foi operada no dia 20.06.2021, retiraram o tumor, mas era muito grande, necrosou uma parte do cérebro que afetava a fala e as respostas que causavam a confusão mental, e isso era irreversível. 

A visão também havia sido afetada, mas ela enxergava uns 50% do lado direito e 100% do esquerdo. Teve alta em 4 dias do hospital, moramos em uma chácara, no sexto dia pós cirurgia ela caminhava entre as árvores e flores do sítio.

 Vinha apresentando uma evolução sensacional, andava, comia sozinha, ia ao banheiro sozinha, tinha um pouco de dificuldade mas, se virava. Após 3 semanas da cirurgia e sem qualquer tipo de explicação ou aviso do corpo ela parou de andar, muita dificuldade de falar, respondia a poucos estímulos, em uma noite ela dormiu bem e acordou sem andar, sem falar, sem se mexer.

 Ficamos sem entender o que havia ocorrido. Iniciamos a radioterapia, foram 15 dias, 3 semanas, que a derrubou mais ainda. Seus cabelos caíram, seu rosto envelheceu e entristeceu, estava fraca, magra e com a voz bem baixinha como se estivesse bem cansada. 

Novamente sem entender, em uma manhã ela se levantou sozinha da cama, voltou a usar o banheiro sozinha e a comer sozinha. Rezamos e agradecemos. Acreditamos que a radioterapia trouxe ela à vida novamente. Que havia acabado o câncer. Mas, na verdade, ele só deu uma recuada para voltar ainda mais forte, cruel e mortal. 

Após 2 semanas que encerramos o tratamento da Radioterapia ela voltou a sofrer. Parou novamente de andar e de falar sem qualquer explicação. Sem qualquer aviso. Em 2 semanas o estrago foi enorme. Os sintomas foram intensos e gradativos no seu corpo, na segunda parou de andar e de falar, na terça parou praticamente de se mexer e tinha dificuldade em manter o equilíbrio na cadeira de rodas, na quarta seus olhos fecharam e tinha muita dificuldade para abrir os olhos, não conseguia mastigar, perdeu a força do maxilar somente dieta líquida. 

Na quinta tudo parou, tinha um sono profundo, para alimentar tínhamos que quase chacoalhar ela para acordar, colocamos a comida na boca ela não engolia , não tinha força e logo em seguida ela dormia. Na sexta feira dormiu o dia todo, não conseguimos acordar para nada. Sábado levamos ao hospital, foi internada e não voltou mais para casa. Seu quadro foi se agravando, temos o convênio da Prevent Senior que sempre a tratou muito bem, ela foi transferida do PS para a unidade Dubai, chegamos no domingo, já sabíamos que o câncer tinha voltado com força total. Foi feita outra tomografia e ficou comprovado que o câncer estava em toda a sua cabeça. Seu corpo foi sendo vencido, aos poucos, dia após dia, o câncer era cruel e impiedoso com ela. A Júlia sempre foi uma guerreira e não iria entregar assim tão fácil essa batalha. Ela resistiu, lutou, queria vencer, tinha muita vida pela frente, uma netinha de 1 aninho que a amava. 

Até que foi vencida. Esse câncer, Glioblastoma, acabou com nossos planos, com nossos projetos, com nossas vidas. Levou a matriarca da família. Em apenas 104 dias ela foi levada da gente. Era uma mulher tão inteligente, tão cheia de sabedoria, com tanta vontade de viver, de tanto amor, que esperou tanto pela sua netinha gerada pela sua filha, que amava a Deus e a sua família e se foi... 

Se estava com muito sofrimento, com muita dor, o câncer a desintegrou em pouco mais de 3 meses. Esse Glioblastoma causou um buraco enorme em nossos corações, destruiu nossas vidas, nossa família, nossos sonhos, nossos projetos, foi cruel, muito cruel com a professora Maria Julia. Do fundo do meu coração ela não merecia ter um final de vida desta forma. Não merecia.... o que nos conforta é nossa Filha que leva o nome da Vovó Maria, que aos poucos nos alegra, nos traz de volta a vida, e nos faz batalhar pela nossa sementinha. Maria Julia, Obrigado por tudo. Jamais esqueceremos a senhora. 

Nossa filha Maria Thereza saberá a sensacional vovó que a senhora foi. Este vídeo é em sua homenagem e que seja eternizado como nos sentimos pela Senhora. Aí do céu, aonde a senhora está, cuida da gente! Cuida da sua princesinha, da sua "Netinha" como você a chama , da sua netinha Thereza! Saudades Eternas! Marcelo, Erica e Maria Thereza. Nossa História compartilho com vocês!