Confira aqui os depoimentos
-
PS - Câncer de Mama Avançado
Minha mãe lutou por 8 anos, faleceu agora dia 31/08/20. Uma parte de mim foi com ela.
Ela estava reformando a casa, na fase final e feliz que iria usufruir, mas não foi bem assim. Tinha 70 anos na época, no ano de 2012.
Pessoas de idade não se sentem bem em mostrar o corpo, mas comigo (a filha caçula) ela tinha um pouco mais de afinidade e quis me mostrar seu seio, pois achava que algo estava estranho.
Seu mamilo estava afundado para dentro, então a questionei "Quanto tempo faz isso mãe?", ao que ela disse, "Muito tempo, quando fui ao ginecologista há três anos, ele me disse que pela minha idade não precisava mais fazer mamografia".
Eu desabei... desabei por dois motivos que me doem a alma: Pelo médico ter feito e dito este absurdo, e por eu como filha não a ter acompanhado.
A correria do dia a dia e meus compromissos me fizeram deixar passar isso, algo tão importante.
Enfim, fui correr atrás do prejuízo pelo SUS, foi uma corrida contra ao tempo.
Fizemos uma consulta particular e um exame, este constatou no total 15 nódulos, sendo 8 nas axilas.
Em seguida marcamos a cirurgia para retirada da mama em setembro 2012.
Então o sofrimento iniciou e, logo após, ela fez 14 quimioterapias e 18 radioterapias.
Achávamos que iríamos perder ela nesse ano, mas não perdemos. Ela sofreu, mas quis lutar bravamente, uma guerreira. Também fez fisioterapia para voltar alguns movimentos no braço.
Os últimos exames de rotina constaram a cura, que era o que nós mais desejávamos, mas após 2 anos ela sentiu uma dor na virilha, a qual até relutei e com meus irmãos, achamos ser uma artrose.
Eu a levei ao ortopedista particular de nossa confiança. Ele a examinou e desconfiou devido o histórico de câncer de mama, então pediu ressonância. Para nossa infelicidade e tristeza, o resultado foi o que ela e nós temíamos: metástase óssea.
Novamente foi uma correria contra o tempo. Alguns médicos deram de 4 meses a 1 ano de vida.
Eu sabia que a dor dessa doença era intensa e eu não aceitava.
Comecei a pesquisar de tudo. Conseguimos tratamento pela PUC Oncologia de Campinas e ortopedia. Fomos muito bem recebidos e a oncologia avaliou e iniciou uma quimioterapia para reforçar os ossos.
Na ortopedia, pelo exame, constatamos que a dor na virilha vinha de uma região próxima ao fêmur e que poderia sofrer fratura. Por isso foi marcada uma cirurgia na perna esquerda para colocar uma haste que evitasse que o osso fraturasse. Após um processo de 4 meses de dor e uso de andador, ela voltou andar.
Também fez mais radioterapia. Usou pomadas para queimadura, teve febres etc..
Nesse tempo eu busquei ajuda de um nutrólogo para suplementos e para ajudar na dor, alimentação e bem estar. Ela fez uso continuo vitamina D, K2, magnésio.
EAP (Isso eu importei dos EUA). Ela esteve bem, pós essa primeira cirurgia dessa perna, se recuperou e não teve dor.
Viveu bem esses anos e conseguiu fazer suas coisas.
Passou um ano e a outra perna apresentou a mesma situação. Ela fez outra cirurgia. Achávamos que essa ela não suportaria, mas conseguiu. Pela cirurgia outra haste ainda maior que a outra foi colocada e após 5 meses, andou novamente. Em seguida fez mais radioterapia e apoiou-se com bengala.
Lutamos juntos, ela queria viver.
Amava estar com os filhos, e por um deles ser deficiente lutava por ele principalmente.
Adorava comer, passear, era positiva, orgulhosa dos filhos, dos netos, era nossa confidente e amiga, sempre nos motivando.
Eu não aguentaria 1/3 do que vi ela aguentar. Que força, que garra... Realizamos consultas mensais, de acompanhamento, e em outubro de 2019 uma ressonância mostrou tumores no pulmão, embolia pulmonar, coluna, fígado. Foi um horror aos nossos olhos, muita tristeza.
Ela ficou internada por 3 dias para tratar. Até janeiro de 2020 ainda conseguia ir ao supermercado, feira etc. Eu amava sua companhia, com mãe e filha se ajudando. Em março, junto com a pandemia, ela já apresentava fraqueza extrema e andava só com andador. A ida ao médico era de cadeira de rodas.
Nessa época o sofrimento aumentou para ela e a família... até maio ela vinha na cozinha fazer as refeições e ficava muito mais em repouso na cama do que em pé. Então as dores começaram a ser fortes.
Começamos a usar morfina para controle da dor. Junto haviam várias outras medicações para intestino, para dormir, para náuseas e anticoagulante devido a embolia. Ela passou junho, julho e agosto só na cama. Seus banhos era eu quem dava, uma mulher cuidava dela durante o dia e cada filho ficava durante as noites cuidando dela. Era o fim, mas não queríamos aceitar. No fim de julho ela teve uma paralisia facial que a debilitou ainda mais... Teve tonturas e ficou muito mal. No dia 18 de agosto fez tomografia da cabeça. Os vômitos eram constantes e nada podia comer... Começava o fim.
Fazíamos corridas para hospital, recebíamos medicação e voltávamos. Ela ficava quietinha na cama, mas sentia nos ossos a dor por dentro. Ela estava tentando ser forte mas não queria mais nada... No dia 25 do mesmo mês ela fez 78 anos. Eu levei bolo, mas ela não conseguiu comer. Foi uma tristeza total. Já na sexta do dia 28, ela estava debilitada em casa e sem comer, então decidi ir para o hospital. Ela já delirava, tinha alucinações, mas mesmo assim um filho jamais acha que a mãe não voltará do hospital.
A internaram em estado grave, o seu pulmão já estava com falta de ar, sentia náuseas, tinha vômitos. No sábado ainda se alimentou, mas no domingo já tinha pouca consciência e não conseguia falar e nem engolir. Tentava falar, mas não conseguia.
Uma imagem que me deixa triste é de um banho que deram nela enquanto acamada. Ela sofreu dores e eu vi. Fiquei sem reação e não consegui mandar parar, eu estava perplexa. Eu a enchi de beijos, falei no ouvido dela várias coisas. Dei e senti ser o último beijo.
Fui embora e meu irmão entrou para ficar.
Ela faleceu com ele às 9 da manhã do dia 31/08.
Meu relato é extenso, foram 8 anos.
Fiz e corri atrás para salvar minha mãe dessa doença, não consegui o suficiente.
Me entristece ver alguns profissionais da saúde sem preparação, são grossos e desumanos. Não todos, que fique claro. Muitos são anjos.
Essa doença mata o paciente e destrói a família porque existem melhores remédios para alguns e para outros não. Injusto demais... Vi muita coisa, difícil esquecer.
Façam o que puderem, acima de tudo amor.