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Sílvia Regina Dias - Câncer de Ovário
"Vivo um dia de cada vez."
Sou Sílvia Regina Dias e completo 60 anos em julho de 2025.
Em 30 de abril de 2021, realizei uma cirurgia muito bem programada no meu pé direito para correção da formação óssea. Para essa cirurgia, fiz um check-up completo da minha saúde, pois queria uma recuperação plena, já que deveria ficar no mínimo 90 dias sem colocar o pé no chão. Todos os resultados dos exames foram satisfatórios, inclusive o ginecológico, permitindo que eu seguisse com a programação. Minha saúde estava em perfeita ordem.
Em pleno momento de recuperação, após 55 dias, em junho de 2021, comecei a sentir uma dor no baixo ventre e percebi minha barriga inchar. Considerei ser infecção urinária. Em uma semana, a dor piorou e minha barriga cresceu como a de uma grávida de seis meses. Fui ao pronto-socorro e relatei à médica de plantão o que sentia. Eu mesma dei o diagnóstico e sugeri a medicação: "Estou novamente com infecção urinária. Pode me dar soro, antibiótico e um remédio para dor?"
Naquele dia, eu tinha dois compromissos profissionais importantes e estava com pressa para ir embora. A médica, no entanto, não solicitou exame de urina, mas sim uma tomografia do abdômen. Estranhei, mas minha mente já havia justificado a infecção urinária.
Aguardei em frente à sala da médica. Quando o resultado saiu, ela foi muito direta: "Não sou oncologista, mas conversei com o radiologista, e tudo indica que você está com câncer em nível bem avançado. Você será internada hoje mesmo para mais avaliações e proposta de tratamento pela equipe de oncologia."
Parei. "Peraí, eu fiz exame ginecológico há 60 dias e não deu nada. Faço exames ginecológicos religiosamente desde os 18 anos e nunca tive nenhuma doença."
Meu mundo foi se desligando de tudo: das certezas que tinha, da capacidade e habilidade de raciocínio, de buscar soluções. Perdi o sorriso, minha marca registrada. Não consegui mais chorar. Fiquei assim, num limbo, no automático por alguns dias, conversando com Deus, até que, num pequeno fio de luz, consegui iniciar um movimento para a vida e a saúde.
Passados quase quatro anos desde o primeiro diagnóstico, hoje estou na fase da manutenção, mas esse período foi repleto de desafios. Fiz inúmeras quimioterapias, histerectomia total, ooforectomia. Tive infecção hospitalar, passei por uma cirurgia de hernioplastia. Quebrei meu tornozelo direito num tombo após tomar uma medicação forte. Tive Covid e outras inúmeras intercorrências. Como uma fênix, ressurgia e seguia em frente, mas, internamente, sentia que perdia minha identidade.
Em novembro de 2023, tive quatro meses de manutenção, sem quimioterapia, sem tumores no organismo, sem efeitos colaterais. Comecei a me reconhecer novamente.
Em março de 2024, recebi a notícia da primeira recidiva. Muito cedo, ao meu ver. Nem havia aproveitado os quatro meses de liberdade da quimio. Passei 2024 inteiro em tratamento quimioterápico para exterminar os tumores nas duas pelves, parte do peritônio e na pleura do pulmão direito.
Tive dificuldade de aceitação desse segundo diagnóstico, mas consegui me adaptar novamente ao tratamento. Em novembro de 2024, recebi a notícia de que o tratamento foi bem-sucedido e, desde então, estou em manutenção.
Agora, inicio novamente os exames de imagem para ver se tudo continua bem com meus órgãos internos. Tive sequelas na parte motora inferior, na voz, na memória.
O que dizer desses últimos quatro anos?
O meu "sim" para a continuidade da vida e o comprometimento com o tratamento foram determinantes para estar onde estou hoje. Tenho consciência de que o percurso é longo, mas sou uma pessoa de muita fé, passando por fases de renascimento e desfolhamento, retirando as camadas que encobriam quem eu realmente sou.
Apesar dos inúmeros desafios, escolhi recursos saudáveis que me direcionam para o meu bem-estar. O cuidado com minha saúde mental, através da psicoterapia e de outras atitudes, é o alicerce que me mantém.
Adquiri uma nova forma de me relacionar comigo mesma e com os outros. Desenvolvi um olhar mais amoroso e respeitoso para mim e para minha vida.
Conheci muitas pessoas em diferentes situações de adoecimento. Essa troca é fortalecedora.
Definitivamente, sinto que sou uma pessoa muito abençoada e muito melhor do que aquela do início de 2021.
Vivo um dia de cada vez.
Sílvia Regina Dias.