Em 2021 minha mãe descobriu um câncer, até então localizado na garganta. Algumas semanas depois ela estava sentindo dor pra ir ao banheiro e descobriu vários tumores no intestino e no reto. Colocaram bolsa de colostomia, ali começou uma luta diária de dor e sofrimento. Havia dias que ela chorava mais. Havia dias que ela tentava se mostrar bem e ser forte. 

Começou a quimioterapia com 6 sessões. Ela dizia que estava bem, mas não teve resultado. A médica decidiu parar e assim ela ficou bem por alguns meses, mas com dor diariamente, apenas sem o sofrimento da quimioterapia.

Um dia ela acordou com dor na garganta, a levamos ao médico, mais um baque: o câncer espalhou para o estômago e esôfago. Tinha que usar sonda para alimentação. Ela emagreceu 10 kg em um mês, sempre falava que sentia fome. Eu não podia fazer nada por ela. Em novembro, dia 14, ela passou o dia bem, dormindo o dia todo, como sempre ela fazia quando não estava com dor.

Fiquei feliz, falei pra cuidadora dela, mais 23 horas tive a pior notícia e ao menos o alívio que ela tinha descansando, que não ia sentir mais dores, nem ficar enjoada ou com fome. Ela tinha morrido, a vi na cama, pedi perdão por tudo e agradeço pela força e pela mãe que foi. A cuidadora me contou que ela estava com calor e pediu pra chupar um gelo e disse que tinha muito tempo que não sentia algo tão bom e gelado, fiquei triste quando ouvi, mas no fundo fiquei um pouco confortada que ela teve essa sensação boa antes do fim.